A temática da nona edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, “Realidades da imagem, histórias da representação”, propõe pensar na relação entre a arte e o seu contexto social. Qual seria o papel da fotografia diante da nossa realidade tão complexa? O projeto selecionará e premiará obras que proponham uma reflexão ampla sobre a prática social por meio da arte e o fazer artístico como expressão histórica. As inscrições seguem abertas até 13 de março. O edital com a ficha de inscrição está disponível no site www.diariocontemporaneo.com.br.
As múltiplas possibilidades que a fotografia abarca permitem não só uma experiência estética como também o desafio de representação do cotidiano e da sociedade. Mariano Klautau Filho, curador do projeto conta que o tema “surgiu da própria fotografia enquanto linguagem de embate e empatia com a realidade. A fotografia sempre foi tomada como um meio de aproximação com o mundo real no sentido social, mas essa questão é sempre mais ampla do que aparenta”, afirma.
As condições da sociedade brasileira, os problemas de cunho político, racial e de renda estão manifestos em muitas construções artísticas contemporâneas. Realistas ou não, essas produções tem o caráter de registro deste momento para uma memória.
Em seu artigo “A arte brasileira e a crise de representação”, o crítico de arte Moacir dos Anjos explica que, “é preciso lembrar que qualquer produção artística está sempre ligada, com menor ou maior evidência ou consciência, aos lugares e aos tempos vividos por seus autores. Aquilo que é inventado pelos artistas, ou mediado por suas subjetividades, sempre deixa transparecer, como sintoma ou como análise, a situação e o contexto específicos que lhe serve de chão e calha”.
A fala do especialista reforça a questão de que por mais universal que seja a mensagem do artista, ela sempre está ligada ao contexto que ele está inserido. “A resposta é perceber como o artista pensa isso por meio de sua posição no mundo e a gramática que ele escolhe para construir suas imagens do mundo”, explica Mariano.
REPRESENTAÇÃO DO INIVISIVEL
Sujeitos presentes, sujeitos ausentes. Grupos invisíveis encontram na arte o seu lugar de fala. Moacir atenta, “ao se falar de crise de representação, fala-se, portanto, de uma situação em que os danos que uma dada partilha do sensível provoca ou condensa são finalmente explicitados. Situação em que se evidenciam, por vários meios, as desigualdades que moldam e que definem certo contexto social, fazendo que a alguns seja dado o poder de terem rosto e de terem fala, enquanto a outros são negados o direito à própria imagem e o de narrar suas histórias. E é diante desse entendimento amplo do que é representação e de como a arte potencialmente atua para questionar uma dada configuração hegemônica do que pode ou não pode ser figurado em um dado lugar e momento, que se pode pensar a ideia de uma arte que resiste. De uma arte que recusa a naturalização da invisibilidade social de determinadas questões, grupos sociais e entendimentos sobre o mundo. De uma arte que resiste à ideia de que as representações dominantes não podem ser questionadas e alteradas. Resistência que é entendida, assim, não como gesto passivo frente a uma força que acua, mas, paradoxalmente, como postura ativa de transformação”.
A fotografia é, então, o recorte de uma realidade complexa. Ainda assim, o olhar do artista traz um destaque, um realce daquilo que ele busca uma correspondência com a vida individual daquele que observa a sua imagem. Cada um responderá ao seu modo aos questionamentos trazidos pela temática da 9ª edição. “A fotografia é uma possibilidade de resistência assim como a arte. Aqui estamos falando também da imagem como modo de representação e posicionamento diante da história aqui e agora. O aqui e agora também inclui o fotógrafo em seu fazer artístico”, finalizou Mariano.
O PRÊMIO
Além da fotografia Diário Contemporâneo abre espaço para propostas em vídeo, instalações, projeções e trabalhos que misturam suportes. Serão concedidos três prêmios no valor de R$10.000,00 cada, sendo dois deles na forma de bolsa para residência artística nas cidades de São Paulo e Belém. O artista poderá inscrever-se livremente e concorrer a qualquer um dos prêmios de acordo com a sua linha de trabalho. Serão selecionados no máximo vinte artistas, incluindo os três premiados.
O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é um projeto nacional realizado pelo jornal Diário do Pará com apoio da Vale, apoio institucional do Museu do Estado do Pará – MEP, do Sistema Integrado de Museus/Secult-PA e do Museu da UFPA.
SERVIÇO: O IX Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia inscreve até 13 de março. Informações: Rua Gaspar Vianna, 773 – Reduto. Contatos: (91) 3184-9310; 98367-2468; diariocontemporaneodfotografia@gmail.com e www.diariocontemporaneo.com.br.