O papel da fotografia e a temática da nona edição

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A temática da nona edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, “Realidades da imagem, histórias da representação”, propõe pensar na relação entre a arte e o seu contexto social. Qual seria o papel da fotografia diante da nossa realidade tão complexa? O projeto selecionará e premiará obras que proponham uma reflexão ampla sobre a prática social por meio da arte e o fazer artístico como expressão histórica. As inscrições seguem abertas até 13 de março. O edital com a ficha de inscrição está disponível no site www.diariocontemporaneo.com.br.

Pra Sempre, de Mirian Guimarães, artista selecionada em 2017

As múltiplas possibilidades que a fotografia abarca permitem não só uma experiência estética como também o desafio de representação do cotidiano e da sociedade. Mariano Klautau Filho, curador do projeto conta que o tema “surgiu da própria fotografia enquanto linguagem de embate e empatia com a realidade. A fotografia sempre foi tomada como um meio de aproximação com o mundo real no sentido social, mas essa questão é sempre mais ampla do que aparenta”, afirma.

As condições da sociedade brasileira, os problemas de cunho político, racial e de renda estão manifestos em muitas construções artísticas contemporâneas. Realistas ou não, essas produções tem o caráter de registro deste momento para uma memória.

Em seu artigo “A arte brasileira e a crise de representação”, o crítico de arte Moacir dos Anjos explica que, “é preciso lembrar que qualquer produção artística está sempre ligada, com menor ou maior evidência ou consciência, aos lugares e aos tempos vividos por seus autores. Aquilo que é inventado pelos artistas, ou mediado por suas subjetividades, sempre deixa transparecer, como sintoma ou como análise, a situação e o contexto específicos que lhe serve de chão e calha”.

A fala do especialista reforça a questão de que por mais universal que seja a mensagem do artista, ela sempre está ligada ao contexto que ele está inserido. “A resposta é perceber como o artista pensa isso por meio de sua posição no mundo e a gramática que ele escolhe para construir suas imagens do mundo”, explica Mariano.

Da série Balaclava de Randolpho Lamonier, selecionada na 5ª edição do projeto.

REPRESENTAÇÃO DO INIVISIVEL

Sujeitos presentes, sujeitos ausentes. Grupos invisíveis encontram na arte o seu lugar de fala. Moacir atenta, “ao se falar de crise de representação, fala-se, portanto, de uma situação em que os danos que uma dada partilha do sensível provoca ou condensa são finalmente explicitados. Situação em que se evidenciam, por vários meios, as desigualdades que moldam e que definem certo contexto social, fazendo que a alguns seja dado o poder de terem rosto e de terem fala, enquanto a outros são negados o direito à própria imagem e o de narrar suas histórias. E é diante desse entendimento amplo do que é representação e de como a arte potencialmente atua para questionar uma dada configuração hegemônica do que pode ou não pode ser figurado em um dado lugar e momento, que se pode pensar a ideia de uma arte que resiste. De uma arte que recusa a naturalização da invisibilidade social de determinadas questões, grupos sociais e entendimentos sobre o mundo. De uma arte que resiste à ideia de que as representações dominantes não podem ser questionadas e alteradas. Resistência que é entendida, assim, não como gesto passivo frente a uma força que acua, mas, paradoxalmente, como postura ativa de transformação”.

A fotografia é, então, o recorte de uma realidade complexa. Ainda assim, o olhar do artista traz um destaque, um realce daquilo que ele busca uma correspondência com a vida individual daquele que observa a sua imagem. Cada um responderá ao seu modo aos questionamentos trazidos pela temática da 9ª edição. “A fotografia é uma possibilidade de resistência assim como a arte. Aqui estamos falando também da imagem como modo de representação e posicionamento diante da história aqui e agora. O aqui e agora também inclui o fotógrafo em seu fazer artístico”, finalizou Mariano.

 O PRÊMIO

Além da fotografia Diário Contemporâneo abre espaço para propostas em vídeo, instalações, projeções e trabalhos que misturam suportes. Serão concedidos três prêmios no valor de R$10.000,00 cada, sendo dois deles na forma de bolsa para residência artística nas cidades de São Paulo e Belém. O artista poderá inscrever-se livremente e concorrer a qualquer um dos prêmios de acordo com a sua linha de trabalho. Serão selecionados no máximo vinte artistas, incluindo os três premiados.

O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é um projeto nacional realizado pelo jornal Diário do Pará com apoio da Vale, apoio institucional do Museu do Estado do Pará – MEP, do Sistema Integrado de Museus/Secult-PA e do Museu da UFPA.

SERVIÇO:  O IX Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia inscreve até 13 de março. Informações: Rua Gaspar Vianna, 773 – Reduto. Contatos: (91) 3184-9310; 98367-2468; diariocontemporaneodfotografia@gmail.com e www.diariocontemporaneo.com.br.