O professor e pesquisador franco-português, Samuel de Jesus, esteve em Belém para realizar a última ação formativa da 8ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. O curso “O corpo ao limite. Fotografia, cinema e práticas extremas contemporâneas” ocorreu nos dias 29 e 30 de junho, no auditório do Museu de Arte Sacra e compartilhou diversas referências artísticas com os participantes.
Samuel abordou a questão da fisiognomia, que busca uma leitura do indivíduo através da sua face, ele ainda apresentou artistas que hoje reagem produzindo obras que desmistificam esse padrão, usado principalmente em situações como a da fotografia publicitaria, com o culto do “adequado” e do “belo”.
“As características externas do rosto não têm nada a ver com o funcionamento da psique”, explicou. Ainda assim, a fisiognomia, tida como método cientifico, inoculou-se na fotografia. Regras, proporções, sistematização, tudo em nome de uma legitimidade. “Apesar de criticada, a fiosiognomia invade o campo da fotografia, sobretudo na médica e na policial”, acrescentou. Nadar, por exemplo, passa a receber encomendas de fotografias destinadas aos dicionários médicos. Na investigação policial, a tentativa de leitura do rosto servia como forma de identificação e controle.
Porém, o instrumento de controle, tornou-se também um instrumento de fuga. A portabilidade das câmeras mudou a forma como o indivíduo se relaciona com a fotografia, agora usando-a mais intensamente como uma crítica à sistematização. A fotografia vai para a rua e deixa de privilegiar apenas as altas camadas da sociedade. Ela passa a dar visibilidade aos invisíveis.
“Muitos artistas vão levar o corpo ao limite, como uma superfície de investigação”, disse Samuel. A estranheza, o incomodo, a sombra da morte, a ambiguidade. Ao apresentar referências como Ticiano, Marc Ferrez, Leon Busy, Eugène Arget, Fox Talbot, August Sander, Alfred Hitchcock, Dorotea Lange, Otto Dix, Jeff Wall, Gina Pane, Gui Mohallen, David Nebreda, entre outros, o professor trouxe questões como “o que é uma imagem esgotada?”, “como definir o conotado da imagem?” e “o que se deseja falar?”.
Além disso, as duas tardes do curso foram dedicadas às leituras de portfólio, nas quais os participantes apresentaram séries e projetos em andamento, enquanto conversavam com Samuel e os outros sobre narrativas, suportes, curadoria e edição. “O portfólio serve para que o leitor tenha uma ideia mais nítida sobre a sua história”, finalizou.
SERVIÇO: O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do Jornal Diário do Pará, com patrocínio da Vale, apoio institucional do Museu da Universidade Federal do Pará, Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, do Sistema Integrado de Museus/SECULT-PA e apoio da Sol Informática. Informações: Rua Gaspar Vianna, 773 – Reduto. Contatos: (91) 3184-9310; 98367-2468; diariocontemporaneodfotografia@gmail.com e www.diariocontemporaneo.com.br.