Fotografia paraense em destaque no Prêmio Diário Contemporâneo

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Seguindo a programação de aberturas de exposições do 5º Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, o Museu da UFPA recebe, nessa quarta-feira (23), às 19h, duas mostras especiais: “Cidade Invisível”, de Janduari Simões, artista convidado desta edição; e “Pequenas cartografias (e duas performances)”, com um breve resumo da nova produção fotográfica e artística do estado, através dos trabalhos de Marise Maués, Michel Pinho, Cinthya Marques, Rodrigo José, Marco Santos e Luciana Magno.  A entrada é franca e a visitação seguirá até o dia 22 de junho.

Este ano, o artista convidado vem reforçar, mais uma vez, a necessidade de se construir um panorama da produção fotográfica no nosso estado. Janduari Simões nasceu no interior da Bahia, mas seu acervo se constitui, em grande parte, com imagens sobre cultura e o homem da Amazônia, sobretudo do Pará. Em “Cidade Invisível”, ele apresenta um questionamento sobre história, memória e patrimônio. Numa parte, um recorte pontual de sua sensibilidade sobre o espaço urbano e as mutações que ocorrem na arquitetura, com um olhar atento para a estrutura formal das moradias, e as semelhanças que anulam o limite entre centro e periferia. Onde, segundo o curador do projeto, Mariano Klautau Filho, “as fachadas de casas populares assumem uma conformação construtivista e os apartamentos projetados na era moderna da arquitetura se revelam na sua ocupação contemporânea uma assimetria, linhas irregulares e certo caos distantes do projeto inicial para o qual foram pensados”.

Foto: Janduari Simões

Do outro lado, um trabalho tocante, que foi realizado final dos 70, época em que a quadra que abrigava a Fábrica Palmeira estava sendo destruída, e marcando, então, o nascimento de uma das maiores cicatrizes urbanas que Belém já produziu, a qual hoje tem o nome de “Buraco da Palmeira”. “As imagens do Janduari dos restos da edificação da Fábrica Palmeira são melancólicas, e ao mesmo tempo são registros documentais de uma paisagem que ninguém (ou quase ninguém) fotografou”, conta Mariano, acentuando que “As pessoas preferem ver os desenhos, rótulos, marcas dos antigos catálogos da Palmeira como se fossem bibelôs românticos e com isso poderem suspirar exercitando seu gozo nostálgico, mas não querem enxergar que houve um massacre de uma quadra inteira e que isso está relacionado hoje com o poder das construtoras e incorporadoras que continuam destruindo a cidade diante de gestões e institutos de patrimônio subservientes”. Na sua observação, as fotografias de Janduari recolocam nesse contexto a questão da invisibilidade de uma cidade, cidade essa que muita gente não quer ver ou não consegue mais ver.

MOSTRA ESPECIAL

Pelo segundo ano, além da individual do artista convidado, o Museu da UFPA recebe, também, uma coletiva que traz um recorte do que de novo está se produzindo na fotografia paraense. Veteranos e jovens fotógrafos apresentam ao público seus mais recentes trabalhos. A mostra “Pequenas cartografias (e duas performances)” acentua mais ainda a intenção do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia de valorizar e fomentar a cultura paraense.

Marise Maués apresenta a obra intitulada “Nóstos”, composta por um vídeo, que teve como local de produção a ilha ribeirinha de Maracapucu Miri, localizada o município de Abaetetuba. “Sou egressa desse lugar, contudo aos dois anos fui levada juntamente com mais oito irmãos para a cidade, pois para minha matriarca era imprescindível à educação, a fim de nos garantir um futuro melhor. Apesar desse afastamento, sempre tive contato com os costumes e tradições ribeirinhas, seja pela ancestralidade ou por visitas em épocas de férias”, conta Marise. O trabalho mistura natureza e feminilidade.

Já o fotógrafo e historiador Michel Pinho expressa seu convite à reflexão, um questionamento sobre o estado da humanidade que beira barbárie, o qual legitimou e legitima a violência. “Patrimônio” é composto por fotografias que navegam entre a estética do lugar e o registro do patrimônio deixado pelos nazistas. “Descobri que a dor atravessa fronteiras e as edificações que antes serviam como apenas um estábulo, passaram a ser campos de extermínio. A proposta da exposição se encaixa nesse viés, falar de processos transnacionais questionar como a construção visual do nazismo ajuda-nos a compreender a dor que emana dos prédios, caminhos, banheiros e arames, muitos arames que lá e cá estão”, reflete Michel.

Primavera. Foto: Rodrigo José

“Primavera”, de Rodrigo José é um trabalho desenvolvido no ambiente interno de uma casa, em que as fotografias procuram investigar o lado afetivo de um lugar que estava em via de desaparecer. É uma série em que a fotografia trabalha como um vetor de descobertas que possibilita a reflexão de um universo particular.

“Flat – Volto para dormir todos os dias nas ruínas”, de Cinthya Marques, trata-se de uma série de fotografias que buscam retratar o ambiente que artista reside, a partir da linguagem ficcional, observando uma única perspectiva: a vista da janela de um apartamento, próximo a Avenida Presidente Vargas, centro comercial de Belém. “Assim como um estrangeiro, que ao chegar à nova cidade se depara com uma visão acerca do seu próprio mundo, pretendo discutir na série a sensação daquele que observa pela primeira vez uma nova paisagem ao seu redor, para falar sobre o primeiro olhar que lançamos no local em que se transita, aquele olhar sobre o novo, o diferente e o desconhecido”, conclui Cinthya.

“Flat - Volto para dormir todos os dias nas ruínas”, de Cinthya Marques
“Flat – Volto para dormir todos os dias nas ruínas”, de Cinthya Marques

No cotidiano de fotojornalista do jornal Diário do Pará, Marco Santos observou: “sempre tive uma certa paixão por composições que envolvem o que chamamos de sinistro. É uma sensação provocada pela escuridão e pela luz. Algo que revela de forma abstrata a existência e elementos, nas imagens”. Em “Sinistro”, vemos fotografias de situações arrasadas, mas que renovam a esperança com pequenas coisas, quase imperceptíveis.

Já no registro da performance “O silêncio ancorava as asas: ser pedra depende de prática”, da artista Luciana Magno, observamos imagens em que a força da natureza se impõem. O trabalho é uma reflexão sobre a vida e seu fluxo, a partir do lançar-se ao desconhecido.

Criado em 2010, o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é um projeto nacional que incentiva a cultura, a arte e a linguagem fotográfica em toda a sua diversidade.

SERVIÇO: Fotografia paraense em destaque no Prêmio Diário Contemporâneo. Abertura: 23 de abril de 2014. Horário: 19h. Local: Museu da UFPA (Av. Governador José Malcher (esquina com Generalíssimo Deodoro). Entrada franca. Visitação até 22 de junho de 2014. O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do jornal Diário do Pará, com patrocínio do Shopping Pátio Belém e Vale, apoio institucional da Casa das Onze Janelas, do Sistema Integrado de Museus/ Secult-PA, Sol Informática e Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA).Informações: Rua Aristides Lobo, 1055 (entre Tv. Benjamin Constant e Tv. Rui Barbosa) – Reduto. Contatos: (91) 3355-0002; 8367-2468; premiodiario@gmail.com e http://www.diariocontemporaneo.com.br.

Texto: Debb Cabral

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