Definido tema da exposição de Walda Marques

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Não foi uma tarefa fácil, definir que fotografias ou temas entrariam na mostra da convidada especial deste ano, mas bastou Walda Marques comentar que tinha fotografado Cuba sob vários aspectos, quase como se fosse um diário de sua experiência turística no lugar, para que Mariano Klautau, o curador do prêmio, batesse o martelo em favor das imagens que retratam o ambiente da vida cotidiana dos moradores de Havana e outras cidades do interior da ilha.

Foram centenas de clics durante os quinze dias em que a fotógrafa ficou no país . Por isso foi necessário fazer um recorte mais específico do que seria trazido para dentro da programação do 4º Diário Contemporâneo de Fotografia. Walda conta que nunca tinha pensado em montar uma exposição sobre o país e que esteve ali por curiosidade pela cultura e principalmente atraída pela música cubana.

“Eu tinha uma vontade enorme de ir a Havana, não pela questão política, mas pela cultura mesmo. Fiquei encantada com a música quando vi Buena Vista Social Clube, do Wim Wenders. E a partir daí comecei a prestar atenção em um monte de coisas, tanto que quando cheguei lá, me senti em casa”, diz ela.

Nas fotos curadas por Mariano, algo entre 15 a 20 fotos, o elemento feminino, sempre tão presente na obra de Walda, permanece, mas neste caso, nem sempre estará  presente na cena fotografada. São ambientes de diversas casas, onde ora podemos imaginar seus moradores, ora os vemos intrínsecos a eles. Há ainda algumas vitrines, carros antigos.

“É tudo muito parecido com o meu canto”, brinca Walda que mora em uma casa antiga, decorada com inúmeros móveis e objetos que bem poderiam mesmo estar em uma residência cubana. “Então você vai constatando que Cuba é bem aqui, como o Caribe, também nos traz fortes influencias culturais. Mas lá, eu fui turista. Nas fotos, eu preciso que as pessoas entendam que fui visitar, não fazer um trabalho. Aproveitei a oportunidade e me larguei a andar pelas cidades e a bater na porta das pessoas e pedir pra entrar, me apresentava e pedia pra fotografar. Algumas me recebiam, mas outras, não”, lembra Walda.

A ideia de Mariano e Walda é mostrar Cuba por dentro, fazendo um retrato de cada lugar por onde a fotógrafa passou, a partir do interior das casas. “A arrumação delas, seus objetos, os lustres, mas também o tempo parado de cada pessoa. Fui até o meio da ilha, chegando a Trinidad, uma cidade na província de Sancti Spíritus”, diz. A pequena cidade fica entre montanhas e, em conjunto com o Vale de los Ingenios, é um Património Mundial desde 1988.

“Fomos também a Santa Clara e vi forte o turismo em torno de Che Guevara. Mas o que chama atenção nisso tudo é que parece que tudo ali parou nos anos 1950. A arrumação das casas, a riqueza dos móveis. O art déco grita. Há também tudo que se pode imaginar em plástico e ficamos loucos também com as TVs e as geladerias. Enquanto em Havana velha vemos um certo descuido com o patrimônio, no interior vê-se que se soube aproveitar mais o dinheiro do turismo para estes investimentos”, conta ela que fez a viagem acompanhada por alguns amigos.

Walda ainda não sabe como será a montagem, mas diz que gostaria que os visitantes se sentissem entrando em uma casa em Cuba. Além das fotografias selecionadas por Mariano, ela está experimentando um tipo de animação para as fotos feitas em uma fonte rodeada de mulheres representadas em estátuas de bronze.

“Isso aqui vai rola rum vídeo”, aponta ela em seu estúdio, que funciona em sua própria casa situada entre os bairros Batista Campos e Jurunas, em Belém. “Isso aqui é uma fonte de mulheres. E eu quero que elas dancem”, decreta.

Em estado de entrega e entusiasmada como sempre fica com tudo que se envolve na fotografia, a convidada especial desta 4ª edição é uma das fotógrafas mais atuantes de sua geração. É dona de um estilo próprio, onde se percebe claramente seu foco de produção. “A fotografia pra mim não vem só através do clic. Eu realizo um trabalho em cima do que se chama de fotografia. Não me acho fotógrafa. Gosto de produzir, sem isso, pra mim, não há fotografia. Tem que ter maquiagem e entendimento com as pessoas que eu fotografo. É uma busca, uma procura”, explica.

Nascida em Belém do Pará, Walda trabalhou 17 anos com maquiagem para teatro, televisão, salão de beleza e estúdio fotográfico. Em 1989 fez a oficina do fotógrafo Miguel Chikaoka, artista convidado na 3ª edição do prêmio. “Na Associação Fotoativa, passei a ver a fotografia mais de perto, mesmo já trabalhando com vários fotógrafos em Belém como Luiz Braga e Octavio Cardoso”.

Foi em 1992, que ela entrou em contato profissional da fotografia e fundou o W.O. Fotografia, em parceria com Octavio Cardoso, de quem foi inicialmente assistente. “Daí passei a ser retratista dentro desse estúdio”, lembra.

A exposição de Walda será inaugurada no dia 27 de março, no Museu da UFPA. Até lá, muita coisa em Cuba pode estar mudando,saindo do tempo estático da fotografia deixada em 1959, quando o governo revolucionário isolou o povo cubano do resto do mundo, já que no último dia 15 de janeiro, enquanto Mariano e Walda, se reuniram para escolher o tema da mostra, uma nova lei se estabeleu no país, ditando as novas regras que dão mais liberdade aos cubanos para sair do país.

Passando a vigorar nesta última terça-feira, o povo foi informado que receberão passaportes e poderão viajar quando e para onde quiserem, após vários anos de restrições. “Não sabíamos disso ainda. Que lindo, acho que já estava na hora, pois é um povo maravilhoso, que estava preso. Adoro, que bom esse momento!”, conclui Walda Marques.

Calendário – Aberto para artistas de todo o país, o 4º Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia está com as inscrições abertas até dia 9 de fevereiro. Edital e ficha de inscrição podem ser encontrados no site www.diariocontemporaneo.com.br . No dia 05 de fevereiro acontecerá o lançamento do catálogo da edição passada e o período de seleção de fotografias será de 20 a 22 de fevereiro.  Os temas, palestrantes  e o período de inscrições serão divulgados em breve. As exposições serão abertas no dia 26 de março, na Casa das Onze Janelas e, no dia 27, no Museu da UFPA. Fiquem atentos, acessem sempre o site e curtam a página do prêmio no Facebook.


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Realização do jornal Diário do Pará, com patrocínio da Vale e apoio institucional da Casa das Onze Janelas do Sistema Integrado de Museus/ Secult-PA – Museu Histórico do Estado – e Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA). Informações: Rua Gaspar Viana, 773 – Reduto Belém –PA – ou (91) 31849327/83672468 contato@ diariocontemporaneo.com.br

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