Três perguntas para: Daniela de Moraes

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Por: Debb Cabral

Selecionado na 6ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, o trabalho Arquitetura do Esquecimento, de Daniela de Moraes é composto de pequenos fragmentos que nos fazem imaginar a trajetória de um objeto. Trata-se de um velho álbum de fotografias aparentemente vazio, sem fotografias, uma imagem que se faz sem imagens. O trabalho fala da falibilidade humana. É a imagem do obsoleto, da não memória, uma tentativa de detectar como se constrói o esquecimento.

Foto: Arquitetura do Esquecimento, de Daniela de Moraes

Confira a entrevista com a artista:

Como é falar da ausência através de imagens que são como pequenos vestígios?

As fotografias remetem à imagens que não estão presentes, um álbum de fotografia sem fotografias. Encontrei esse álbum “vazio” na casa da minha avó, ela tem Alzheimer e foi muito forte a vontade de falar sobre essa questão do esquecimento (a ideia não é falar da doença, mas sim de memória, esquecimento, ausência…) Quando você vê uma imagem, ela acessa algo na sua memória. Os vestígios do tempo estão nas marcas que estão impressas em cada página, mofo, bolor, pequenos rasgos no papel envelhecido.

Às vezes, é muito mais importante refletir sobre o que a fotografia não mostra. Como que isso se dá no seu trabalho?

Eu já tinha um trabalho anterior em cima do acervo de fotos das minhas avós, era um viés mais antropológico dentro da minha família. Nesse processo, eu encontrei esse álbum aparentemente vazio e a minha primeira vontade foi de preenchê-lo, mas depois eu refleti muito sobre esse objeto até que veio à tona a leitura que fiz e a ideia de expor dessa maneira.

Como que é essa tentativa de detectar como se constrói o esquecimento?

O título do trabalho é “Arquitetura do Esquecimento”, arquitetura no sentido de projetar, construir, uma provocação ao espectador, para estimular a sua imaginação (que imagens são essas? que imagens preenchem essas molduras?). É um trabalho que faz com que as pessoas questionem-se sobre as imagens que guardamos na nossa memória (tem também uma brincadeira é com a palavra ‘Arquitetura’, pois as fotos parecem imagens de janelas…).

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Criado em 2010, o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é um projeto nacional que incentiva a cultura, a arte e a linguagem fotográfica em toda a sua diversidade.

As mostras “Tempo Movimento”, com trabalhos dos artistas premiados, selecionados e participações especiais, no Espaço Cultural Casa das 11 Janelas; e “Diante das cidades, sob o signo do tempo”, de Jorane Castro, artista convidada desta edição, no MUFPA;  seguem com visitação aberta até o dia 28 de junho de 2015. A entrada é franca.

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