RETROSPECTIVA – 2018: Realidades e representações

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O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia realizou em 2018 a sua 9ª edição. “Realidades da Imagem, Histórias da Representação”, temática escolhida, teve como objetivo selecionar e premiar obras que propusessem uma reflexão ampla sobre a prática social por meio da arte e o fazer artístico como expressão histórica.

Toda produção artística está ligada ao seu tempo e aos seus autores, sendo assim uma expressão histórica desde já. Por mais que a fotografia tenha alcançado o patamar de arte, abraçando a ficção, ela nunca deixou de ter relação com o mundo real. O que mudou foi a forma de se relacionar. O que antes tinha a obrigação de ser a cópia fiel da realidade, hoje se apresenta como um recorte dela, um olhar, uma possibilidade sensível que convida para ao diálogo.

Os artistas narram o mundo em que vivem. Ao acolher as diversas ideias, grupos e debates, o projeto reforçou a potência da arte em resistir e de se fazer presente no que estar por vir.

Terrane, de Ana Lira, artista selecionada

O JÚRI

Rosely Nakagawa, arquiteta pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP/SP, integrou a comissão de seleção. Ela tem especialização em Museologia (USP) e em Semiótica da Comunicação (PUC/SP), além de atuar como curadora independente. Rosely inaugurou a programação da 9ª edição do com a conversa “Trajetória da curadoria de fotografia brasileira”, na qual falou sobre seu trabalho com os artistas da fotografia e sobre a valorização da atividade curatorial como um campo de reflexão sobre arte.  Ela ainda realizou o workshop “O livro como território de criação”.

Walda Marques também fez a seleção dos trabalhos. Ela iniciou na fotografia em 1989, nas oficinas de Miguel Chikaoka, trabalhou com maquiagem para teatro e televisão e, em 1992, fundou o estúdio W.O. Fotografia, em parceria com Octavio Cardoso. Walda foi a artista convidada da 4ª edição do projeto.

A mestre e doutora em Artes Visuais pelo PPGAVI do Instituto de Artes da UFRGS, com pesquisas sobre arquivos fotográficos e compartilhamentos de imagens via web, Flavya Mutran, finalizou a banca.

ARTISTA CONVIDADA

Flavya Mutran, que atualmente é professora do Departamento de Design e Expressão Gráfica na Escola de Arquitetura da UFRGS, em Porto Alegre (RS), onde vive desde 2009, foi a artista convidada da 9ª edição.

Redes, tecnologia, globalização. A internet se tornou uma grande enciclopédia virtual e a artista mergulhou nela em pesquisas que tem como foco desde a figura humana até o “apagamento” desta. Flavya apresentou trabalhos conhecidos como EGOSHOT, BIOSHOT e DELETE.use reunidos na mostra “Lapso”.  Além disso, o público pôde conhecer mais sobre os seus processos em uma conversar realizada no Museu da UFPA.

Dá série DELETE.use. Foto: Flavya Mutran

PREMIADOS E SELECIONADOS

Pelo segundo ano consecutivo o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia apostou na residência artística. Dois dos seus três prêmios foram concedidos neste formato.

O paraense Ionaldo Rodrigues conquistou o Prêmio Residência Artística São Paulo com a sua pesquisa “C Nova Feira”. Ele propôs uma instalação com fotografias que registram uma feira na Cidade Nova fotografada por alguém a serviço da Companhia de Habitação do Estado (COHAB). Memória, patrimônio, esquecimento e política foram trabalhadas em suas poéticas.

O paulista Ricardo Ribeiro levou o Prêmio Residência Artística Belém. Seu trabalho vencedor, “Puxirum”, é um projeto iniciado em 2016 e tem lugar em São Pedro, uma comunidade de 120 famílias nas margens do rio Arapiuns, oeste do Pará. Suas imagens proporcionaram uma sensação de vida em suspensão, por acontecer. Uma exploração deste tempo e espaço tão frequentemente habitados pelo ribeirinho e tão fugaz para a maioria dos demais.

O artista plástico paulista Edu Marin Kessedjian teve a sua instalação áudio-fotográfica “Abrigo” contemplada com o Prêmio Diário Contemporâneo. O trabalho faz referência à vida que acontece nos hotéis de alta rotatividade do ‘centro novo’ de São Paulo. São espaços baratos, no geral ocupados apenas por algumas horas, pelos motivos mais variados.

Foram selecionados ainda Ana Lira (PE), André Penteado (SP), Camila Falcão (SP), Élcio Miazaki (SP), Emídio Contente (PA), Fernando Schmitt (RS), Fernando de Tacca (SP), Gabriela Lima (RJ), Ivan Padovani (SP), João Castilho (MG), João Paulo Racy (RJ), José Diniz (RJ), Marcelo Kalif (PA), Marcílio Caldas Costa (PA), Marco Antonio Filho (RS), Maurício Igor (PA), Natasha Ganme (SP), Paulo Baraldi (SP), Pedro Clash (SP), Roberto Setton (SP), Sérgio Carvalho (PI), Thiéle Elissa (RS) e Tiago Coelho (RS). A convite da curadoria do projeto os artistas Armando Sobral (PA), Brenda Brito (PA), Lívia Aquino (CE) e Renata Aguiar (AM) também exibiram seus trabalhos no museu.

Na abertura da exposição também foi lançado o catálogo da coleção de fotografias do projeto.

VIDEOARTE

A novidade da edição foi a mostra de videoarte “Audiovisual Sem Destino”, projeto da artista e professora Elaine Tedesco, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Dentro da exposição ainda houve a sessão “Ao lado dela, do lado de lá”, trazendo vídeos contemporâneos de mulheres artistas. A oportunidade de circulação trazida pelo Diário Contemporâneo permitiu a difusão das obras dos artistas e favoreceu o ambiente de reflexão sobre o vídeo.

Elaine também participou de uma conversa com o público de Belém. Em “Audiovisual Sem Destino – um projeto de vídeo no Brasil” ela falou sobre a estruturação do edital nacional que busca mapear o que se está pensando e produzindo em videoarte no país.

A saga do Herói (2016), de Lívia Pasqualli, que integra a mostra AVSD

 

AÇÕES

Intitulada “Tempo para duvidar: por uma formação de espíritos livres”, a ação educativa da 9ª edição teve a coordenação de Rodrigo Correia. Ele convidou a fotógrafa e pesquisadora, Cinthya Marques, para realizar a curadoria educativa do projeto e o minicurso de formação de mediadores.

Em parceria com a Associação Fotoativa e o Projeto Aparelho, o projeto realizou a oficina “Um convite para [o] olhar”, com as crianças do Porto. Pelas ruas do entorno elas foram fotografando o que mais gostavam no lugar onde vivem. Duas saídas fotográficas foram realizadas, além de uma exibição particular do que foi produzido. O resultado foi compartilhado com o público em uma exposição dentro do mercado integrando o Projeto Circular Campina Cidade-Velha

Os artistas premiados na edição com as residências artísticas, Ionaldo Rodrigues e Ricardo Ribeiro, além de Lívia Aquino e Marisa Mokarzel, suas respectivas tutoras, participaram de uma conversa com o público de Belém sobre todo o processo.

A fotógrafa e artista visual pernambucana, Ana Lira, foi uma das selecionadas e, a convite do projeto, ministrou uma oficina para o público de Belém. “Entre-frestas” promoveu uma reflexão sobre os circuitos de criação, pensando no cotidiano como espaço de construção permanente. Ana também realizou a roda de conversa “Narrativas em presentificação: um diálogo com o projeto Terrane”, na qual contou sobre seu trabalho e história de vida, situando o público em seus percursos artísticos e pessoais que são constantemente entrelaçados.

A fotografia é uma ferramenta para evidenciar situações sociais e trazer questionamentos sobre a complexidade do contexto vivido. Foi com esse pensamento que o projeto convidou o professor Leandro Lage para debater “Imagem, Política e a Sobrevivência do Desejo”.

INSPIRAÇÃO

O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia inspirou pelo segundo ano consecutivo os estudantes da Escola de Ensino Médio e Fundamental Cornélio de Barros, do bairro da Marambaia, a contarem suas próprias histórias através da fotografia.

A 2ª Mostra Fotográfica “Retratos em Preto e Branco” contou com a participação de 70 estudantes do 1º ano do ensino médio e do 9º ano do ensino fundamental, dos quais 30 foram selecionados para expor no Teatro Estação Gasômetro. A iniciativa veio a partir de uma proposição do professor de artes José Carlos Silveira depois das visitas às exposições do Diário Contemporâneo.

O PROJETO

Em 2019, o Diário Contemporâneo comemora uma década de atuação. Ele se tornou um dos grandes editais de competição do país, além de consolidar o Pará como um espaço de criação e reflexão em artes.

O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do Jornal Diário do Pará com apoio institucional do Museu do Estado do Pará, do Sistema Integrado de Museus e do Museu da UFPA; colaboração da Sol Informática, parceria da Alubar e patrocínio da Vale.

Uma década dedicada à fotografia

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Em 2019 o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia comemora uma década de atuação. O edital já foi lançado e as inscrições seguem abertas até 13 de junho sendo realizadas somente pelo site www.diariocontemporaneo.com.br.

Em 2010, na sua estreia, o projeto propôs o tema Brasil, Brasis a partir das diversas identidades contemporâneas que constituem o país. Já em 2014 a temática foi livre e agora, neste ano, o Diário Contemporâneo quer fazer um encontro renovado entre estas edições e propor a livre experimentação artística ao se pensar sobre as transformações que exprimem o país de hoje.

C Nova Feira, de Ionaldo Rodrigues, premiado com a residência artística em 2018.

Em 10 anos de atuação o Prêmio acompanhou diversas transformações na nossa sociedade. Segundo Mariano Klautau Filho, curador do projeto, os trabalhos exibidos “de um modo geral refletem o que ocorre no país, mas sempre a partir das questões propostas em cada edição no sentido de estimular o artista a pensar inicialmente em seus procedimentos e como eles irão traduzir as circunstâncias daquele momento. Esta décima edição toca especialmente em assuntos relacionados às identidades do país propondo um retorno à temática que inaugurou o projeto em 2010. Vamos ver como os artistas reagem a esse contexto”.

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FORMAÇÃO

O Projeto sempre quis ser mais que um edital, assim o Diário Contemporâneo se esforçou ao longo das edições em proporcionar ações como workshops e oficinas para o público, encontros com os artistas, formação de mediadores culturais e acolhida de turmas escolares nos espaços dos museus. Todo ano, milhares de alunos de nível fundamental e médio passam pelas mostras do Prêmio e são recepcionados por estudantes de Artes Visuais que passaram por um treinamento específico em cima da temática da edição, trabalhos selecionados e formação pedagógica de público crítico.

Um dos maiores exemplos do alcance do projeto é a Mostra Fotográfica “Retratos em Preto e Branco”, realizada há dois anos pelos alunos da Escola de Ensino Médio e Fundamental Cornélio de Barros, do bairro da Marambaia que, inspirados pelo que viram nas exposições, retornam à sala de aula e contam suas próprias histórias através da fotografia.

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ACERVO

Um dos legados do Diário Contemporâneo é também a sua Coleção de Fotografia Contemporânea que foi formalizada em 2016, após um intenso trabalho de organização sistemática dos trabalhos que o Projeto vinha reunindo desde a sua primeira edição. São fotografias, vídeos, instalações e outras linguagens produzidos por mais de 40 artistas de todas as regiões do país. Uma coleção de fotografia contemporânea que está sob a guarda das duas instituições públicas parceiras do projeto: o Espaço Cultural Casa das Onze Janelas e o Museu da UFPA.

“A coleção criada associa o Prêmio a um projeto mais duradouro e estabelece uma consciência museológica para a produção contemporânea na medida em que o Prêmio só existe na sua relação com os museus e a preservação do patrimônio público. E creio que deve ser uma poucas coleções de fotografia contemporânea brasileira com esse perfil, ainda que seja embrionária”, observou Mariano.

Além disso, no mesmo ano e incorporada à Coleção, através de uma parceria entre o projeto, o Museu da UFPA e a Tenda de Livros, da artista curitibana Fernanda Grigolin, o Diário Contemporâneo constituiu uma biblioteca que reflete um mapeamento da produção artística nacional. São fotolivros de artistas iniciantes e consagrados, muitos deles resultados de pesquisas acadêmicas. A equipe da biblioteca do Museu da UFPA realizou, inclusive, um estudo para aprender como catalogar esse formato novo.

Ionaldo Rodrigues e Ricardo Ribeiro, premiados com a residência, conversam sobre seus trabalhos e as experiências vividas. Foto: Irene Almeida

INTERCÂMBIO ARTÍSTICO

Ao longo dos anos o Diário Contemporâneo descentralizou os debates. “O Projeto vem contribuindo bastante com a circulação de uma produção nacional quando reúne artistas e pesquisadores em torno de atividades das mais diversas desde workshops até conferências e cursos”, disse Mariano.

O fotógrafo paraense Ionaldo Rodrigues acompanhou de perto a trajetória do Prêmio e analisou que “sendo também um projeto de debate e estímulo à produção artística desenvolvido a partir da estrutura de um jornal, eu percebo um diálogo entre o Diário Contemporâneo e o Suplemento Literário publicado na Folha do Norte entre 1946 e 1951. A partir de um outro contexto, acho que o Diário Contemporâneo segue uma linha  de valorização da formação, do debate crítico e da produção estética que coloca Belém numa interação muito produtiva com a cena nacional e internacional. A atenção que o projeto dedica à documentação e à memória do que é produzido durante as edições e a formação de uma Coleção vai oferecer uma base pra no futuro a gente entender a contribuição do Diário na pesquisa e produção fotográfica do nosso tempo, sem localismos ou regionalismos”.

Ionaldo participou da história do Prêmio de diferentes formas, desde como público na primeira edição, até ano passado, quando foi premiado com a residência artística em São Paulo. “Eu estudei sociologia na UFPA e tive o meu primeiro contato com fotografia como forma de expressão na Fotoativa durante a graduação, desde esse momento o que mais me atraiu foi perceber que fotografia podia ser um dispositivo de pensamento e expressão, um laboratório de experimentos em trabalho manual e intelectual. Ter participado do Diário Contemporâneo como público nas oficinas, exposições e atividades formativas, ministrando oficina e como fotógrafo nas mostras foi, pra mim, uma chance de experimentar várias possibilidades do fotográfico e construir um percurso. A publicação de dois trabalhos nos catálogos do projeto com uma mediação crítica foram, também, muito importantes pra mim”, finalizou.

SERVIÇO

O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do jornal Diário do Pará com apoio institucional do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, do Sistema Integrado de Museus e do Museu da UFPA; colaboração da Sol Informática, parceria da Alubar e patrocínio da Vale.

O suporte para a vivência artística na Conversa com os Residentes

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Os residentes Ricardo Ribeiro e Ionaldo Rodrigues, na companhia de Marisa Mokarzel e Lívia Aquino, suas respectivas tutoras, compartilharam com o público as experiências das residências artísticas realizadas em São Paulo e Belém. A conversa ocorreu na ultima quinta-feira (21), no Museu do Estado do Pará, com mediação de Mariano Klautau Filho, curador do projeto.

Os residentes, suas tutoras e o curador do projeto. Fotos: Irene Almeida.

Antes disso, Lívia Aquino apresentou o seu trabalho “Viva Maria”, que integra a mostra da nona edição como participação especial. Ele é uma citação direta a obra homônima de Waldemar Cordeiro, exposta na Bienal de Artes da Bahia de 1966, período da ditadura militar e que foi retirada pelo então governador Antônio Carlos Magalhães. “O contexto no qual o trabalho do Waldemar foi feito fez todo o sentido para mim, esse contexto me interessava muito. Eu fiquei olhando essa palavra e, no momento atual, tirar ela do singular e trazer para o plural era muito pertinente”, explicou.

Lívia Aquino falou sobre “Viva Maria”.

Lívia buscava não uma ideia de ponte entre dois momentos históricos, mas sim, de continuidade. “Passam os anos e nós ainda estamos nos mesmo problemas”, acentuou. “Viva Maria” é uma forma de resistência, um trabalho que acontece continuamente, inclusive, nos momentos de diálogo, onde as costuras e tessituras pessoais que são realizadas.

Na sequência, o curador do projeto explicou como se deu o processo da residência artística nessa edição. Mariano Klautau Filho enfatizou que “não há a obrigação de proporcionar um resultado e sim uma experimentação, pois cada um parte da sua própria dinâmica”. Isso dá aos artistas o suporte necessário para se dedicar à vivencia.

Público observa os processos dos artistas.

Foi o que aconteceu com Ricardo Ribeiro, que atuou em Belém com o acompanhamento de Marisa Mokarzel. Ele estava há dois anos trabalhando em “Puxirum”, premiado nesta edição do projeto, e aproveitou o período da residência para se debruçar sobre o que foi produzido. “Aqui em Belém eu consegui focar no projeto com a ajuda de muita gente que estava disposta a participar e a colaborar”, contou o artista. “O Ricardo tem pouco tempo na fotografia e esse pouco tempo já é muito marcante. Ele faz da fotografia um projeto de vida”, observou Marisa.

Sobre a residência de Ionaldo Rodrigues, da qual foi tutora em São Paulo, Lívia Aquino disse que colocou o artista em contato com uma rede de pessoas que pudessem colaborar com as reflexões que ele trazia. O paraense iniciou um trabalho a partir do arquivo/biblioteca da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A – EMPLASA, fonte de pesquisa e referência a qual chegou ainda durante a produção de “C Nova Feira”, premiado nesta edição. “Esse não é só um trabalho de arquivo, há uma inteligência poética por parte do Ionaldo que merece ser olhada com todo cuidado”, frisou Lívia.

Os residentes conversam sobre seus trabalhos e as experiências vividas.

“Eu nunca tinha tido a experiência de passar um mês, deslocado de tudo, pensando em um trabalho”, observou Ionaldo, ressaltando o papel fundamental do Diário Contemporâneo como incentivador na formação artística. Tanto “C Nova Feira” quanto a pesquisa realizada no acervo da EMPLASA trazem reflexões do fotógrafo sobre expansão urbana, memória, técnica e política.

Ao trabalhar com a macrofotografia em um relatório, o paraense tornava as palavras, imagens; escavava e destacava de seu contexto, criando novos significados e narrativas visuais. Tudo isso para atentar sobre a urbanização das zonas periféricas. “É uma infraestrutura que vem muito mais para viabilizar um fluxo econômico do que social. É para olhar quantas decisões técnicas e de engenharia são tomadas com interesses econômicos, quantos desequilíbrios ambientais são frutos de interesses econômicos e políticos”, finalizou.

Detalhe da pesquisa realizada por Ricardo Ribeiro.

VISITAÇÃO

A exposição “Realidades da Imagem, Histórias da Representação” exibe os trabalhos premiados, selecionados e participações especiais da 9ª edição do Diário Contemporâneo. As obras ficam no Museu do Estado do Pará – MEP. Além disso, o Museu da UFPA recebe a mostra individual “Lapso”, com trabalhos de Flavya Mutran, artista convidada e a mostra de videoarte “Audiovisual Sem Destino”, projeto de Elaine Tedesco. A visitação segue até dia 15 de julho.

O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do Jornal Diário do Pará com apoio da Vale, apoio institucional do Museu da UFPA, Museu do Estado do Pará, Sistema Integrado de Museus/SECULT-PA e colaboração da Sol Informática.

Diário Contemporâneo promove Conversa com os Residentes

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Em 2017, o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia concedeu dois dos seus prêmios no formato de residência artística. A aposta em uma experiência de formação e reflexão foi tão positiva que, em 2018, o conceito foi mantido. Os artistas premiados nesta edição, Ionaldo Rodrigues e Ricardo Ribeiro, além de Lívia Aquino e Marisa Mokarzel, suas respectivas tutoras, conversarão com o público de Belém sobre todo o processo. O encontro será no dia 21 de junho, às 19h, no Museu do Estado do Pará, com mediação de Mariano Klautau Filho. A entrada será franca.

O paraense Ionaldo Rodrigues foi para São Paulo e teve a artista e pesquisadora, Lívia Aquino, como tutora. Ele conquistou o Prêmio Residência Artística São Paulo com a sua pesquisa “C Nova Feira”, na qual apresenta um material fotográfico que conta um pouco da história local.

Edição de imagens na residência artística em São Paulo. Foto: Ionaldo Rodrigues

Durante o seu período de residência ele, a partir do convite de Lívia, participou de atividades formativas como aulas, curso e encontros de grupos de acompanhamento de produção e pesquisa. “Nesses encontros eu pude falar e mostrar um pouco o ‘C Nova Feira’ e outros trabalhos meus. Tive uma mediação crítica muito produtiva sobre os trabalhos e também escuta e troca sobre a produção de outros artistas”, conta.

Paralelo a esses momentos, o artista iniciou um trabalho a partir do arquivo/biblioteca da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A – EMPLASA, fonte de pesquisa e referência a qual chegou ainda durante a produção de ‘C Nova Feira’. “No acervo físico da EMPLASA pude trabalhar com a reprodução fotográfica em macrofotografia de relatórios e planos diretores como fonte documental e espaço de investigação de sentidos entre palavra/imagem. A pesquisa desse material me levou a outro acervo, aos números da revista semanal Visão publicados durante a década de 1970, e disponibilizados pela biblioteca da ECA/USP. O acompanhamento desse trabalho e a edição em curso (nas fotos) está sendo feito com a participação da Lívia. A ideia que combinamos para conversa no Prêmio é o compartilhamento desse processo de produção/edição com as primeiras cópias de trabalho dispostas em uma mesa”, explica.

VIVÊNCIA EM BELÉM

Já o paulista Ricardo Ribeiro levou o Prêmio Residência Artística Belém e atuou na capital paraense tendo como tutora a curadora e pesquisadora, Marisa Mokarzel. Seu trabalho vencedor, “Puxirum”, tem lugar em São Pedro, uma comunidade de 120 famílias nas margens do rio Arapiuns, oeste do Pará.

Processos de reflexão na residência em Belém. Foto: Ricardo Ribeiro

“A residência foi excepcional e para mim veio num momento especial. Tendo concluído dois anos de trabalho de campo de ‘Puxirum’, eu precisava de tempo e foco para investigar o material produzido. Além disso, Belém se mostrou para mim uma cidade incrivelmente ativa do ponto de vista cultural. Vi e ouvi muita coisa boa e conheci pessoas incríveis, sempre dispostas a dar sua contribuição ao meu trabalho. Marisa Mokarzel, Paula Sampaio, Luiz Braga, Orlando Maneschy, José Viana e Marcone Moreira, meu ‘vizinho de residência’, são apenas algumas dessas pessoas que me ajudaram com o meu processo de criação. Isso sem falar, claro, no Mariano Klautau Filho, na Irene Almeida, no meu anfitrião, Milton Kanashiro, e todos na Fotoativa – eles verdadeiramente me conduziram pelas artes de Belém ao longo destes 40 dias”, comenta.

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A residência é uma forma de se apoiar e incentivar o desenvolvimento e a reflexão a partir das artes. “A troca entre artistas é fundamental. A arte não é uma ciência exata, não há certo e errado, nem verdades absolutas, é impossível aprender só pelos livros. A troca de experiências, percepções, conceitos e o ‘fazer’ são partes essenciais na formação de um artista e por isso a residência é tão importante – acredito muito nisso. Espero que o Diário Contemporâneo se fortaleça cada vez mais como um incentivador da formação de artistas comprometidos e que outras iniciativas semelhantes se espalhem pelo Brasil”, finaliza.

BANDEIRAS

Antes da conversa sobre a residência artística Lívia Aquino falará sobre “Viva Maria”, trabalho com o qual ela integra a exposição do MEP como convidada. Ele é uma citação direta à obra homônima de Waldemar Cordeiro, exposta na Bienal de Artes da Bahia de 1966, período da ditadura militar e que foi retirada pelo então governador Antônio Carlos Magalhães. “Cinquenta anos depois ela torna-se imagem frequente nas redes sociais associada a ‘canalhocracia’ escancarada no Brasil. O meu esforço é para mobilizar grupos distintos dispostos a costurar e conversar acerca de assuntos relevantes para os presentes, aquilo que pode ser de todos. Coser a palavra e ao mesmo tempo falar sobre quando somos feridos por ela – quando a canalhice é estrutural a ponto de respingar em todos nós”, explica a artista.

SERVIÇO: Diário Contemporâneo realiza Conversa com os Residentes. Data: 21 de junho de 2018, às 19h. Local: Museu do Estado do Pará. Endereço: Praça D. Pedro II, s/n. – Cidade Velha. Entrada franca. O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do Jornal Diário do Pará com apoio da Vale, apoio institucional do Museu da UFPA, Museu do Estado do Pará, Sistema Integrado de Museus/SECULT-PA e colaboração da Sol Informática. Informações: (91) 3184-9310;98367-2468; diariocontemporaneodfotografia@gmail.com. Site: www.diariocontemporaneo.com.br.