O fotógrafo e artista visual, Alex Oliveira, foi selecionado para participar da mostra “Poéticas e Lugares do Retrato”, do 8º Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. O Projeto aproveitou a passagem dele pela capital paraense para oferecer ao público uma programação formativa. “Fora do Lugar – Oficina de Fotografia Contemporânea”, foi realizada de 09 a 12 de maio e contou com uma metodologia que foi desde a história da fotografia até a exposição de imagens nas ruas do centro da cidade.
No primeiro dia de atividades, Alex conversou com o grupo, contou sobre sua trajetória e comentou trabalhos de outros artistas como Berna Reale, Edu Monteiro, Cindy Sherman, Alexandre Mury, Duane Michals, Francesca Woodman, Nan Goldin, Shirin Neshat, Ricardo Alvarenga, Nona Faustine e Michelle Mattiuzzi. “A metodologia da oficina é pensada a partir de aulas teóricas e práticas, buscando o compartilhamento de experimentações que derivam da história da fotografia até os diferentes trabalhos de fotógrafos e artistas contemporâneos, numa busca por ampliar as referências visuais dos participantes, apurando o olhar para os acontecimentos cotidianos capazes de nortear uma produção que mescla fotografia, performance e intervenção urbana”, explicou o fotografo.
No dia seguinte a ação foi na rua. Os participantes saíram do auditório do Museu de Arte Sacra, onde foi realizada a oficina, e partiram rumo ao Ver-o-Peso e ruas da Cidade Velha. “Neste caso específico, a produção de imagens visou estabelecer uma relação direta com o espaço urbano, seja nos possíveis deslocamentos de objetos, pessoas e situações encontrados durante a saída a campo, como também em situações e acontecimentos criados pelos participantes, numa busca por uma atitude que visa dialogar e transmitir diferentes sentidos e informações”, acrescentou.
Quando se sai em busca de imagens deve se estar aberto ao imprevisível. A cidade é como uma grande performance que ocorre ininterruptamente. A fotografia é, então, o registro desse movimento frenético. Marcelo Brasil, professor, contou que “a oficina propôs uma abrangente discussão sobre a produção de imagens na contemporaneidade, passando pela história da fotografia, a relação desta com a performance, a intervenção urbana e o deslocamento de realidades”.
O espaço urbano é vivo e pulsante. “A cidade pode ser considerada a partir de um olhar, ou olhares, que passam a visualiza-la como uma ação que se desenrola sem roteiro pré-estabelecido, no qual cabe o fotógrafo/artista buscar desenvolver um corpo aberto e uma escuta ativa que possa ser atravessada por questões, pessoas e encontros ao acaso, que, de antemão, poderiam passar despercebidas”, disse Alex.
Em sua trajetória, Alex Oliveira tem um trabalho de performance bem extenso, mas a maior característica dele é o fato de que as suas diferentes séries só foram possíveis graças à relação com o outro, aos vínculos e às conexões pessoais estabelecidas. “Meu interesse com a oficina foi nortear um olhar apurado para estas relações, visando uma abertura para as experimentações e processos de criação que utilizem a cidade como um campo aberto, capaz de trazer e levantar questões que falem tanto de si, quanto do outro, ou até mesmo de como estas relações são construídas”, explicou.
Uma vez produzidas as imagens, o terceiro dia da oficina foi dedicado ao olhar conjunto, numa espécie de curadoria coletiva na qual foram compartilhadas impressões, críticas e sugestões.
A fotógrafa, Joyce Nabiça, contou que “o que eu mais gosto é dessa relação de troca de conhecimentos, porque eu sempre vou ter alguma coisa para colaborar e as outras pessoas também sempre terão alguma coisa para me doar. Quando o Alex apresentou o trabalho dele e de outras pessoas que interferem no meio urbano, de certa forma isso acabou abrindo a nossa mente para o lugar onde nós vivemos e que não reconhecemos. Nós começamos a ficar mais sensíveis, como eu, que percebi nas minhas imagens a questão forte dos rios, pois eles fazem parte do espaço urbano de Belém e da dinâmica natural da cidade”.
A fotografia foi, então, o vetor de comunicação direta com o entorno. Assim, retirar as imagens e não as devolver não fazia sentido para a proposta do artista. Segundo ele, a importância dessa ação “vem do interesse por pensar numa produção fotográfica que possa não somente captar, registrar e expor em museus e galerias, mas também no espaço urbano, estabelecendo assim, um ciclo criativo que envolve a produção, edição, curadoria e exposição fotográfica – que passa a ser materializada a partir do retorno das imagens para a cidade. Como estas fotografias são recebidas pelas pessoas que convivem diariamente naquele ambiente? Como as imagens podem despertar o imaginário e a memória dos transeuntes e passantes? Estas e outras questões perpassam as motivações e interesses da oficina”, afirmou Alex.
O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia expõe as suas obras em dois museus da capital paraense, o Espaço Cultural Casa das Onze Janelas e o Museu da UFPA, e desde a sua primeira edição tem investido no acesso à arte. A oficina de Alex Oliveira vem de encontro a esse propósito, pois o resultado da saída fotográfica e da curadoria compartilhada foi devolvido a cidade em imagens no formato “lambe-lambe”, afixadas próximas aos locais de sua realização.
“A exposição das imagens nas cidades visa democratizar o acesso à arte fotográfica para além dos museus e galerias, que geralmente é habitado por uma grande maioria do público especializado das artes, levando a fotografia para habitar, mesmo que de forma efêmera e temporária, a cidade e seus respectivos espaços. No caso da oficina, as fotografias serão expostas em contextos que são marcados por uma grande produção imagética, como o Ver-o-Peso, a Feira do Açaí e a Cidade Velha”, finalizou Alex.
VISITAÇÃO
A exposição “Poéticas e Lugares do Retrato” exibe os trabalhos premiados, selecionados e participações especiais da 8ª edição do Diário Contemporâneo. As obras ficam divididas entre o Museu da UFPA e o Espaço Cultural Casa das Onze Janelas. Além disso, o MUFPA recebe a mostra individual “Interiores”, com trabalhos de Geraldo Ramos, artista convidado. A visitação segue até dia 30 de junho, no MUFPA e 02 de julho, nas Onze Janelas.
SERVIÇO: O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do Jornal Diário do Pará, com patrocínio da Vale, apoio institucional do Museu da Universidade Federal do Pará, Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, do Sistema Integrado de Museus/SECULT-PA e apoio da Sol Informática. Informações: Rua Gaspar Vianna, 773 – Reduto. Contatos: (91) 3184-9310; 98367-2468; diariocontemporaneodfotografia@gmail.com ewww.diariocontemporaneo.com.br.