RETROSPECTIVA – 2017: O olhar para o retrato

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O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia realizou em 2017 a sua 8ª edição. Depois de voltar-se para a Coleção de Fotografias no ano anterior, o projeto retornou ao formato de edital. “Poéticas e lugares do retrato”, temática escolhida, teve como objetivo destacar obras que propusessem um diálogo com as práticas e poéticas do retrato, desde a sua configuração tradicional até as experiências e representações que pudessem expandir os seus lugares e significados enquanto ação artística.

A grande novidade da edição foram os dois prêmios no formato de intercâmbio. Um artista de Belém fez residência artística em São Paulo e um artista de fora da capital paraense fez em Belém.

“Doce Obsessão Vol. 2”, de Hirosuke Kitamura

O JURÍ

A comissão foi formada por Alexandre Sequeira, mestre em Arte e Tecnologia pela UFMG, doutorando em Arte pela mesma instituição e professor na Faculdade de Artes Visuais da UFPA.

Camila Fialho, pesquisadora independente em Artes, também integrou o júri. Ela, que é a presidente da gestão atual da Associação Fotoativa, é formada em Letras e mestre em Literatura Francesa, além de ter especialização em Práticas Curatoriais e Gestão Cultural.

Isabel Amado, curadora e especialista em conservação, foi o terceiro nome escolhido. Desde 2000 ela dirige a empresa Anima Montagens, especializada na organização e na manutenção de arquivos e acervos de fotografia. É sócia da Galeria da Gávea, especializada em fotografia brasileira contemporânea, e mantêm um escritório em São Paulo especializado em fotografias vintage. Isabel abriu a programação formativa do projeto com a fala “Fotografia e o Circuito da Arte: entre o museu e a galeria”.

ARTISTA CONVIDADO

Geraldo Ramos exibiu no Museu da UFPA um novo olhar sobre a sua produção que documenta a região amazônica. O recorte inédito apresentou fotografias produzidas em película, preto e branco, cromo e digital. “Interiores” foi o nome da mostra que se destacou como uma incursão por décadas de paisagens, pessoas, ritos, florestas e cultura popular.

O título partiu de uma característica muito forte no trabalho de Geraldo que é o mergulho, muitas vezes intimista, na visualidade do interior do estado. O jornalista com formação em artes visuais, ainda realizou um bate-papo sobre sua trajetória, processos e apresentou ao público alguns dos trabalhos quem vem desenvolvendo.

 

Painéis em Cametá. Foto: Geraldo Ramos

PREMIADOS E SELECIONADOS

João Urban ganhou na categoria “Prêmio Diário Contemporâneo” com o ensaio “Tu i Tam, poloneses aqui e lá”, sobre imigrantes poloneses no Paraná e que busca semelhanças na Polônia. As imagens exibidas tiveram a característica de apresentar os mesmos personagens fotografados com até 24 anos de diferença, entre 1980 e 2004. João realizou ainda a conversa “A presença do retrato na fotografia documentária”, em que apresentou mais detalhes do trabalho premiado.

Hirosuke Kitamura, que levou o “Prêmio Residência Artística em Belém”, apresentou dois vídeos. “Doce Obsessão Vol.1” veio de uma vivência em Guaicurus, bairro de grande prostituição em Belo Horizonte e “Doce Obsessão Vol.2”, que mostrou um pedaço da vida de uma personagem transexual da mesma região.

Guido Couceiro Elias era calouro do curso de Artes Visuais da UFPA quando ganhou o “Prêmio Residência Artística em São Paulo”, mostrando que a sensibilidade artística é algo que está presente desde jovem. Sua série fotográfica, “Vivaz”, veio de um desejo particular de registrar a própria família, focando em seus integrantes mais idosos e nas relações destes que convivem juntos há mais de um século.

A “Conversa com os Residentes”, da qual participaram Hirosuke e Guido, além de seus respectivos tutores, Alexandre Sequeira e Lívia Aquino, foi o momento em que eles puderam dialogar com o público sobre as experiências, deslocamentos e percepções.

Os artista selecionados na edição foram Alex Oliveira (MG), André Penteado (SP), A C Junior (RJ), Emanoela Neves (PA), Filipe Barrocas (SP), Francisco Pereira (MG), Gui Mohallem (MG), Gringo ColetivoGui Christ e Gabi Di Bella (SP), Hans Georg (RJ), Isabel Santana Terron (SP), Janaina Wagner (SP), Juliana Jacyntho (SP), Keyla Sobral (PA), Leticia Ranzani (SP), Marcelo Costa (SP), Mirian Guimarães (SP), Pedro Silveira (MG), Renata Laguardia (MG), Rodrigo Linhares (SP), Sara Alves Braga (MG), Silas de Paula (CE), Victor Galvão (MG) e Viviane Gueller (RS).

Outra novidade foi a participação de Lucas Negrão, Suely Nascimento, Pedro Sampaio, Miguel Moura e Tarcisio Gabriel na mostra final do projeto na condição de participações especiais, como estímulo à produção de jovens artistas no estado do Pará.

Foto: Alex Oliveira

AÇÕES

Cinthya Marques e Rodrigo Correia coordenaram a ação educativa daquele ano, intitulada “Olhar e ser visto: práticas educativas na poética do retrato”. Este também foi o nome do minicurso que eles fizeram para a formação de mediadores.

A oficina “Fotografar a Fotografia” foi ministrada por Lívia Aquino. Voltada para a pesquisa e reflexões teóricas sobre a imagem fotográfica, a ação formativa usou como pontos de partida para os debates dois textos, um do artista Robert Smithson e outro do escritor Italo Calvino.

Filipe Barrocas lançou seu livro “O corpo neutro” acompanhado de uma leitura feita por Ruma de Albuquerque e Oneno Moraes.

 “Fora do Lugar – Oficina de Fotografia Contemporânea” foi ministrada pelo fotógrafo e artista visual, Alex Oliveira. Ela contou com aulas técnicas e práticas de fotografia, produção fotográfica e artística processual, exercício de curadoria e uma exposição fotográfica coletiva através da técnica lambe-lambe, como forma de intervenção urbana.

“O Retrato e o Tempo” foi a oficina ministrada pelo professor de artes visuais, desenhista e fotógrafo, Valério Silveira. A partir da temática da edição, a ação formativa proporcionou um diálogo sobre o retrato e suas práticas, usando a interpretação do tempo como elemento prioritário para a discussão e produção da imagem.

O projeto também realizou uma programação especial para as crianças integrando o Projeto Circular Campina-Cidade Velha, com atividades de desenho e pincel de luz.

O curso “O corpo ao limite. Fotografia, cinema e práticas extremas contemporâneas” foi ministrado pelo professor e pesquisador franco-português, Samuel de Jesus. Ele abordou a questão da fisiognomonia e o pensamento de que é possível ‘medir’, em sua época, o indivíduo em função das suas supostas características físicas.  Samuel também realizou leituras de portfólio.

A palestra “Diálogos sobre Artes Visuais e Amazônia(s)”, do professor e pesquisador John Fletcher, encerrou a programação. Ele elencou eventos, artistas e obras para propor uma compreensão sobre modos de vida e estéticas articuladas na e para as Amazônias, fazendo também um panorama da história artística de Belém.

MOSTRA ESCOLAR

O grande destaque de todos os anos é sempre o trabalho realizado junto às escolas. Quase seis mil alunos tiveram a experiência de poder se envolver com as obras da edição. Os estudantes do 1º ano da E.F.M. Profº Cornélio de Barros, do bairro da Marambaia que, na ocasião, visitavam as mostras do projeto pelo quarto ano consecutivo, ficaram inspirados no que viram. Eles realizaram suas próprias imagens com fotos de familiares e amigos, o que resultou na “I Mostra Fotográfica Retratos em Preto e Branco”, realizada na escola.

O PROJETO

Em 2019, o Diário Contemporâneo comemora uma década de atuação. Ele se tornou um dos grandes editais de competição do país, além de consolidar o Pará como um espaço de criação e reflexão em artes.

O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do Jornal Diário do Pará com apoio institucional do Museu do Estado do Pará, do Sistema Integrado de Museus e do Museu da UFPA; colaboração da Sol Informática, parceria da Alubar e patrocínio da Vale.

Diário Contemporâneo promoveu o compartilhamento das residências artísticas

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O último evento da programação da abertura das mostras da 8ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia foi uma “Conversa com os Residentes”, da qual participaram Hirosuke Kitamura e Guido Couceiro Elias, além de seus respectivos tutores, Alexandre Sequeira e Lívia Aquino. O encontro ocorreu na noite de 06 de maio, no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas e teve a mediação de Mariano Klautau Filho.

A residência artística, novidade desta edição, surgiu da inquietude do Projeto. “A ideia da residência vem da necessidade de experimentação e do incomodo de poder estar numa espécie de piloto automático, repetindo um modelo. A residência é um procedimento cada vez mais importante para a arte contemporânea”, afirmou Mariano.

Foto: Irene Almeida

A figura de um tutor, ou um pesquisador para acompanhar esse residente foi essencial, pois promoveu o debate e a reflexão. Segundo Lívia Aquino, sua atuação foi de orientação e provocação do artista. “O meu processo com o Guido foi direcionar ele a lugares em que ele pudesse ativar a sua percepção, sempre levando em conta o seu desejo artístico e a sua pratica”, contou.

O que é possível praticar em uma experiência que te desloca para um outro campo de ação e ambiente? Guido Couceiro Elias se relacionou com a cidade de São Paulo através das palavras. Ele escreveu a fotografia. “Eu notei que dava para fazer as imagens que eu estava vendo através da escrita. Comecei a escrever para continuar o processo iniciado pela fotografia e, quando percebi, fiquei mais próximo das pessoas através das palavras”, lembrou o artista.

MERGULHAR NA CIDADE

Em Belém, Alexandre Sequeira recebeu Hirosuke Kitamura em sua casa. O tutor observou que “o Prêmio, através da residência, oportuniza ao artista entrar em contato com um outro território. Os trabalhos que eles inscreveram foram premiados e estão na parede expostos, isso proporcionou um não compromisso com o resultado e sim com a experiência. Para mim, isso é interessante, pois eu também reflito como artista”, disse.

Hirosuke veio a Belém e imergiu na cidade, absorveu dela o máximo que pode, mas sempre com um movimento de retorno e de estabelecimento de relações. Ele conviveu intensamente com pessoas que não costumam habitar o espaço dos museus, mas que também tinham muito a contribuir.

O artista produziu centenas de imagens durante o período da sua residência e disse, “gostei muito de ter vindo na época das chuvas, porque eu pude ver como as pessoas convivem com ela de maneira natural. Eu consigo ter acesso a uma relação mais aberta com as pessoas e com o ambiente, sem máscaras”, finalizou.

Algumas das imagens que Hirosuke fez foram devolvidas a cidade em formato lambe lambe, afixadas em locais próximos aos da sua produção e daqueles com que o artista se relacionou.

VISITAÇÃO

A exposição “Poéticas e Lugares do Retrato” exibe os trabalhos premiados, selecionados e participações especiais. As obras ficam divididas entre o Museu da UFPA e o Espaço Cultural Casa das Onze Janelas. Além disso, o MUFPA recebe a mostra individual “Interiores”, com trabalhos de Geraldo Ramos, artista convidado. A visitação segue até dia 30 de junho, no MUFPA e 02 de julho, nas Onze Janelas.

O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do Jornal Diário do Pará, com patrocínio da Vale, apoio institucional do Museu da Universidade Federal do Pará, Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, do Sistema Integrado de Museus/SECULT-PA e apoio da Sol Informática. Informações: Rua Gaspar Vianna, 773 – Reduto. Contatos: (91) 3184-9310; 98367-2468; diariocontemporaneodfotografia@gmail.com e www.diariocontemporaneo.com.br.

Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia investe em talentos

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Pensar o retrato desde a sua configuração tradicional até as experiências e significações que possam expandi-lo. Com base nisso, o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia escolheu para esta sua 8ª edição a temática “Poéticas e lugares do retrato” que premiou os trabalhos de João Urban (PR), Hirosuke Kitamura (BA) e Guido Couceiro Elias (PA).

João Urban ganhou na categoria “Prêmio Diário Contemporâneo” com o ensaio “Tu i Tam, poloneses aqui e lá”, sobre imigrantes poloneses no Paraná e que busca semelhanças na Polônia. As imagens que serão exibidas têm a característica de apresentar os mesmos personagens fotografados com até 24 anos de diferença, entre 1980 e 2004.

Foto do ensaio “Tu i Tam, Poloneses Aqui e Lá”, de João Urban

João contou que a vitória “foi uma grata surpresa. Fico feliz não só pelo prêmio, que vem em muito boa hora, mas pela possibilidade de divulgar esse trabalho tão longe de sua origem, nesse país grande e diverso. Também fico feliz porque poderei rever Belém e os bons amigos que a fotografia me apresentou nessa bela cidade. Agradeço a todos os criadores do Prêmio, a curadoria e aos avaliadores dos projetos”.

O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia tornou-se um dos maiores editais de fotografia do Brasil, promovendo o diálogo entre as produções de diversos estados e a reflexão em artes. Sobre isso, João comentou, “acho de grande importância a atuação do Diário Contemporâneo, é um grande estímulo à produção fotográfica. Gostei muito da importância dada ao retrato, esse gênero por vezes esquecido, mas tão importante dentro da fotografia. Espero que o Prêmio possa ter continuidade para que muitos fotógrafos recebam esse estímulo”.

RESIDÊNCIAS ARTÍSTICAS

Este ano, o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia inovou mais uma vez e trouxe a residência artística como grande novidade da edição. Dois prêmios foram concedidos na forma de bolsa para residência artística. Um artista de Belém foi contemplado com a residência artística em São Paulo, sob a orientação da artista e pesquisadora Lívia Aquino, em parceria com o Condomínio Cultural, e um artista de fora da capital paraense foi premiado com a residência em Belém, sob a orientação do artista e pesquisador Alexandre Sequeira, por meio de seu projeto “Residência São Jerônimo”.

Hirosuke Kitamura, que levou o “Prêmio Residência Artística em Belém”, apresentará dois vídeos. “Doce Obsessão Vol.1” vem de uma vivência em Guaicurus, bairro de grande prostituição em Belo Horizonte (MG). Neste lugar repleto de energia, prazer, dinheiro e obsessão, o artista mostra o misto de sensações vividas dentro de um motel, desde as emoções saturadas até a percepção de si próprio, com um autodescobrimento dentro daquele ambiente caótico. Já “Doce Obsessão Vol.2” mostra um pedaço da vida de uma personagem transexual da mesma região. Aquela pessoa torna-se a representação de toda a oposição da realidade humana, do prazer até o sofrimento, passando pela alegria até a solidão e chegando à masculinidade e a feminilidade, nesta mistura de ordem e caos tão humana.

“Doce Obsessão Vol. 2”, de Hirosuke Kitamura

O artista que, em sua trajetória, já participou de uma outra residência artística, não imaginava que ia ser premiado no Diário Contemporâneo e ficou muito feliz com a notícia. Sobre as expectativas para essa nova vivência ele afirmou, “agora tenho a oportunidade de ficar mais tempo imenso em uma experiência que propõe a produção de imagens sobre poética e lugares do retrato. Nessa experiência busco explorar o ambiente para que possa ter uma nova percepção que contribua para produzir algo diferente do que estou acostumado”.

Guido Couceiro Elias é calouro do curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Pará e ganhou o “Prêmio Residência Artística em São Paulo”, mostrando que a sensibilidade artística é algo que está presente desde jovem. Sua série fotográfica, “Vivaz”, percorre retratos atuais e antigos de família, focando no contraste de relações entre o núcleo desta e a memória carregada nos lugares de realização das imagens fotográficas. O trabalho veio de um desejo particular de registrar a própria família, focando em seus integrantes mais idosos e nas relações destes que convivem juntos há mais de um século.

O universitário ficou eufórico com a notícia e com a valorização desse trabalho que tem um significado muito importante para si. “Eu sinceramente fiquei muito feliz de ver que essa edição tem pelo menos (que eu saiba) três artistas bem jovens, Lucas Negrão, Tarcísio Gabriel e eu. Acho de extrema importância um projeto como o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia dar espaço e visibilidade para artistas jovens, mesmo porque, Belém está borbulhando grandes artistas e jovens artistas e isso parece ter sido visto pelo pessoal do Diário”, comentou.

“Vivaz”, de Guido Couceiro Elias

Guido ficará imerso em São Paulo, a maior cidade do país, convivendo com artísticas de diferentes capitais e dialogando com outras linguagens artísticas. “A residência artística antes de tudo, veio para mim como um desafio pessoal. Minhas expectativas quanto a ela são de meio que viver o centro cultural com mais visibilidade do Brasil e poder estar sendo assistido e trocar ideias com a Lívia Aquino e todos do Condomínio Cultural. Acredito na residência como uma oportunidade única de poder ir, tão jovem, pensar e produzir algo fora do meu espaço, da minha zona de conforto. Acho que essa experiência renderá bons frutos. Estou ansioso”, finalizou.

 A Mostra VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, com trabalhos premiados e selecionados desta edição, ocorrerá no período de 04 de maio a 02 de julho, no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas.

O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do Jornal Diário do Pará, com patrocínio da Vale, apoio institucional do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, do Sistema Integrado de Museus/SECULT-PA, Sol Informática e Museu da Universidade Federal do Pará. No site www.diariocontemporaneo.com.br estão disponíveis todas as informações sobre a 8ª edição, bem como a memória do projeto desde 2010 quando foi criado.