Paula Sampaio é a artista convidada do 11º Diário Contemporâneo

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Nascida em Belo Horizonte, Paula Sampaio migrou para a Amazônia ainda criança com a família. Formou-se em Jornalismo pela UFPA e atuou como fotojornalista por muitos anos.

Seu olhar atento registrou diversas transformações ocorridas na região, seja no dia a dia como repórter fotográfica ou em seus ensaios documentais.

Seus projetos de fotografia falam sobre as migrações na Amazônia, bem como as comunidades e vivências que são atravessadas por grandes estradas abertas na região, como as rodovias Belém–Brasília e Transamazônica.

Ocupação, colonização da região, memórias orais e patrimônio imaterial são alguns dos temas recorrentes em seu trabalho. Suas séries são reflexões sobre a natureza e a fragilidade dos seres.

Foto: Paula Sampaio

Atualmente é responsável pelo Núcleo de Fotografia do Centro Cultural Sesc Ver-o-Peso e continua desenvolvendo seus projetos. No momento, dedica-se a organizar seu arquivo pessoal.

Paula Sampaio é a artista convidada da 11ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia.

Confira a entrevista:

Você é alguém que migrou, que saiu de Belo Horizonte e veio para Belém. Seus trabalhos têm muito desse olhar sobre os trajetos, os percursos. Acredita que há uma ligação com a sua própria vivência?

Pois é, sou parte de uma família migrante. Quando viemos para a Amazônia nos anos de 1970, já partimos de Rio Preto/SP, só nasci em Minas. Passei a minha infância mudando de lugar. Moramos em vários municípios ao longo das rodovias Belém-Brasília (nos estados do Maranhão, Pará e Goiás) e perto de Carolina, na Transamazônica. Então, trago em mim essa vivência e também esse espírito viajante. As estradas são a minha casa.

Você atuou por muitos anos como repórter fotográfica. Pode falar um pouco dessa rotina? Sente falta?

Foram quase 30 anos de um cotidiano intenso. Fotografando praticamente todo dia, uma ação visceral, onde tive a chance de atravessar em questão de horas muitas existências, além do prazer de ver essa produção chegar na vida de milhares pessoas, – às vezes bem, e em outras mal – o que também é um grande aprendizado. Essa partilha foi um exercício incrível e eu aproveitei e me entreguei a esse ofício com muita intensidade sempre, aprendi muito e utilizo essa experiência para tudo que faço. Se sinto falta? Da prática sim, mas a forma como isso se dá cotidianamente nas redações atualmente, que foram o espaço das minhas experiências, não. Com certeza fiquei muito mais exigente. Claro que o jornal impresso me fascina, até faço os meus (risos). Criei um projeto, o ‘Folhas Impressas”, que é o reflexo da minha paixão.

O fotojornalismo tem uma pressa em comunicar o agora. No fotodocumentarismo o tempo é um pouco mais generoso com os projetos. É isso mesmo?

Muitas vezes me perguntaram isso e eu sempre respondia que sim, o tempo era um diferencial determinante. Mas hoje, ando desconfiada desse senhor “O Tempo”, ele tem revelado novas faces para mim. Então, talvez seja o espaço e a dinâmica da prática e como isso se resolve no” tempo da comunicação”, a grande questão. E também porque esses conceitos de fotojornalismo, documentarismo, vão sendo acrescidos de muitas camadas no curso da história. Deixo essa provocação e não uma resposta.

Virgínia Feitosa atravessando atoleiro no momento em que desiste de viver na Transamazônica. Foto: Paula Sampaio

Seus ensaios e pesquisas falam muito sobre memória, migração, natureza e ocupação. Quanto tempo leva uma pesquisa como a da Transamazônica ou do Lago do Esquecimento?

Esses trabalhos todos estão na minha vida, então o tempo é a duração da minha própria existência. É curioso isso, mas de verdade não sinto que tenha terminado nada, estou sempre encontrando um novo começo dentro de cada uma dessas temáticas e também uma nasce da outra. “O Lago do Esquecimento” é um bom exemplo, é “filho” do trabalho nas estradas (Transamazônica e Belém-Brasília, que realizo desde 1990 e nunca acabei). Nasceu das minhas viagens em busca de comunidades alagadas no trecho da Transamazônica, no município de Novo Repartimento, que desapareceu com a inundação provocada pelo represamento do Rio Tocantins durante a construção da Hidrelétrica de Tucuruí. Na busca pelos atingidos pela barragem acabei encontrando outros seres, as árvores fossilizadas, que formam essa paisagem trágica e todo o mundo que vive nesse lugar inacreditável e suas histórias.  E do “Lago do Esquecimento” nasceu a fotoinstalação “Árvore” e por aí vai. Então, para mim, o tempo de um trabalho é enquanto eu viver e sentir vontade de revisitar esses espaços todos, reencontrar as pessoas…. Assim, a única coisa que finalizo são as etapas, batizo com um nome e sigo com tudo no meu coração. Nesse aspecto a fotografia é uma linguagem muito generosa porque ela sempre nos oferece a possibilidade de renascimento.

Há muito da relação com o outro em seus ensaios, com as pessoas e as comunidades. Como que se dão essas relações?

Sempre foi natural. Trabalho em áreas de migração onde encontro pessoas com quem me identifico. Tem muito mineiro, baiano, maranhense, então, é como se eu estivesse frequentando a casa de conhecidos e o ambiente também. Desde criança vivo na amazônia, tudo é familiar.

Há também a denúncia. Qual o peso da responsabilidade em comunicar as desigualdades e ocupações que vêm acontecendo?

A responsabilidade é tentar tratar essas questões a partir da experiência de quem está mergulhado nelas: os protagonistas dessas histórias. Buscar meios para que eles mesmos falem sobre sua condição, por isso trabalho com relatos, memórias. Foi a forma que encontrei de tentar comunicar tudo isso de forma partilhada e com relação às imagens, elas se impõem, eu só tenho que estar disponível. Agora, nos últimos três anos tenho me dedicado a estudar e rever meu arquivo que está se perdendo, então, não estou presente na cena. Ocorre que essas temáticas que são a base do trabalho que faço estão no nosso presente, assim acabam servindo de referência para pesquisas (TCCs, teses, dissertações, livros didáticos) e outras criações como, por exemplo, o filme “O Reflexo do Lago” do Fernando Segtowick, baseado no livro “O Lago do Esquecimento” que tem tido uma ótima repercussão. E assim as responsabilidades vão sendo divididas. Aliás, o movimento fotográfico em Belém sempre teve essa característica meio híbrida e partilhada, isso é uma sorte, nunca estamos sozinhos.

PAULA SAMPAIO

Nascida em 1965, em Belo Horizonte (MG), veio ainda menina para a Amazônia com sua família e em 1982 escolheu viver e trabalhar em Belém (PA). Durante o curso de Comunicação Social, na UFPA, descobriu a fotografia e, em seguida, foi aluna de Miguel Chikaoka, na Associação Fotoativa. Optou, então, pelo fotojornalismo. A sua principal referência nessa área foi o Jornal O Liberal, onde trabalhou como repórter fotográfica entre 1988 e 2015. Desde 1990 desenvolve projetos de documentação fotográfica e ensaios autorais sobre o cotidiano de trabalhadores, em sua maioria, migrantes que vivem às margens dos grandes projetos de exploração e em estradas na Amazônia, principalmente nas rodovias Belém-Brasília e Transamazônica. Além de imagens, também guarda sonhos e histórias de vida (escritos e/ou contados) de pessoas que fotografa nesses caminhos.

O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do jornal Diário do Pará com apoio institucional do Museu do Estado do Pará, do Sistema Integrado de Museus, SECULT e do Museu da UFPA; colaboração da Sol Informática e patrocínio da Alubar.

Palestra com John Fletcher encerra a programação da 8ª edição

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A visitação das mostras da 8ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia teve seu encerramento no último domingo (02), mas antes disso o projeto realizou a última ação da sua agenda de convidados, com a palestra “Diálogos sobre Artes Visuais e Amazônia(s)”, do professor e pesquisador John Fletcher. A programação que foi realizada no dia 30 de junho, no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, contou com a mediação de Marisa Mokarzel.

Belém, Pará, Brasil. Cultura. Diálogos Sobre Artes Visuais e Amazônia(s) com John Fletcher Nas Onze Janelas. 30/06/2017.  Foto: Irene Almeida.
Fotos: Irene Almeida

John fez um panorama da história artística de Belém, apresentando espaços expositivos que contribuíram para o fortalecimento do circuito artístico local, além de eventos marcantes como o 1º Seminário sobre as Artes Visuais na Amazônia, organizado pelo Instituto Nacional de Artes Plásticas (INAP), sob a direção de Paulo Herkenhoff.

Nomes como Valdir Sarubi, Claudia Leão, Luiz Braga, Octavio Cardoso, Miguel Chikaoka, Mariano Klautau Filho, Luciana Magno, entre outros, foram citados por ele ao traçar os contornos da cena paraense que estava de fortalecendo.

Belém, Pará, Brasil. Cultura. Diálogos Sobre Artes Visuais e Amazônia(s) com John Fletcher Nas Onze Janelas. 30/06/2017.  Foto: Irene Almeida.

Apresentando tudo isso, John questionou, “como a arte pode comunicar ou atingir melhor os sujeitos para promover uma transformação política nos dias de hoje? ”. A arte comunica questões que fazem parte do cotidiano amazônico, mas o que seria a visualidade amazônica e como ela permanece hoje? “Nós devemos a todo instante problematizar a arte e seus lugares”, acrescentou.

Os anos 70 e 80 foram marcantes para a arte paraense e atualmente, no contexto de crise política e econômica, o processo criativo e critico encontra-se cada mais necessário para manifestar uma resposta a isso e a uma espécie de modus operandi artístico que é refém do mercado.

Belém, Pará, Brasil. Cultura. Diálogos Sobre Artes Visuais e Amazônia(s) com John Fletcher Nas Onze Janelas. 30/06/2017.  Foto: Irene Almeida.

“Os artistas têm que estar abertos a perceber os furos nas suas próprias metodologias. Se não estamos questionando a produção artística, então o que estamos fazendo? ”, finalizou John.

SERVIÇO: O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do Jornal Diário do Pará, com patrocínio da Vale, apoio institucional do Museu da Universidade Federal do Pará, Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, do Sistema Integrado de Museus/SECULT-PA e apoio da Sol Informática. Informações: Rua Gaspar Vianna, 773 – Reduto. Contatos: (91) 3184-9310; 98367-2468; diariocontemporaneodfotografia@gmail.com e www.diariocontemporaneo.com.br.

8º Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia promove palestra com John Fletcher

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O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia encerrará a sua agenda de convidados da 8ª edição com a palestra “Diálogos sobre Artes Visuais e Amazônia(s)”, do professor e pesquisador John Fletcher. A programação será realizada no dia 30 de junho, às 19h, no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, com entrada franca. A mediação será de Marisa Mokarzel.

Ponta d’areia, 1988. Foto: Luiz Braga

Segundo John, “a palestra buscará elencar eventos, artistas e obras para propor uma compreensão sobre modos de vida e estéticas articuladas na e para as Amazônias. Para tanto, vamos discutir algumas das bases conceituais da produção artística em Belém, como se deu o desenvolvimento, maturação e desconstrução destas bases conceituais, para, então, fornecer alternativas de compreensão sobre regimes de historicidades próprios, com seu fluxo de visibilização de culturas, de suas autenticidades e vitalidades”.

Investigações e um olhar crítico sobre as transformações artísticas nas múltiplas Amazônias será o foco do encontro com o público. A palestra antecederá o encerramento da mostra VIII Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, no dia 02 de julho, que tem como tema as “Poéticas e Lugares do Retrato”, e exibe desde o retrato tradicional até as experimentações que expandiram os significados dessa representação artística. Além disso, a mostra “Interiores” apresentou, nas fotografias de Geraldo Ramos, artista convidado, as diversas paisagens e pessoas que formam a região Amazônica.

SOBRE

John Fletcher é Doutor em Antropologia pelo PPGA/UFPA e Mestre em Artes pelo PPGArtes/UFPA. Durante o Doutorado, realizou estudos e pesquisas na Universidad del Cauca, em Popayán, Colômbia, com extensão nas cidades de Santiago de Cali e de Medellín (primeiro semestre de 2015). Possui pesquisa a qual envolve Arte Contemporânea Paraense, Teoria Antropológica, Antropologia Visual e Pós-Colonialismo. Atualmente é Professor da Universidade Federal do Pará/UFPA, vinculado a Faculdade de Artes Visuais.

SERVIÇO: Diário Contemporâneo realiza Palestra com John Fletcher. Data: 30 de junho de 2017, às 19h. Local: Espaço Cultural Casa das Onze Janelas. Endereço: Praça Frei Caetano Brandão s/n – Cidade Velha. Entrada franca. O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é uma realização do Jornal Diário do Pará, com patrocínio da Vale, apoio institucional do Museu da UFPA, Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, do Sistema Integrado de Museus/SECULT-PA e apoio da Sol Informática. Informações: Rua Gaspar Vianna, 773 – Reduto. Contatos: (91) 3184-9310; 98367-2468; diariocontemporaneodfotografia@gmail.com e www.diariocontemporaneo.com.br.