Por: Debb Cabral
A fotografia nos dá a ideia de que o mundo todo é acessível e está ao alcance dos nossos olhos.
O turismo conferiu caráter de “acontecimento” a tudo, e o viajante, fotografo incansável, é o colecionador de fragmentos desse mundo.
O público lotou no auditório do CCBEU, na quinta-feira (26), para ouvir as palavras da fotógrafa e pesquisadora no campo da imagem, Lívia Aquino, que em sua palestra “Enunciados de um mundo-imagem [ou o que poderia ser um selfie de todos nós]”, contou sobre sua pesquisa e experiência pessoal enquanto fotógrafa-turista.
Na palestra, Lívia resumiu os principais aspectos da sua tese de doutorado, apresentada em março de 2014, na Unicamp. Na pesquisa, ela se apoiou em trabalhos como o da suíça Corinne Vionnet, que para a série “Photo Opportunities”, recolhe na internet centenas de fotografias produzidas por turistas e reúne tudo em uma única imagem; e da americana Penelope Umbrico que em 2006 apresentou o mural Suns From Flickr, com quase seiscentas mil imagens do pôr do sol feitas por fotógrafos amadores e coletadas de um site de compartilhamento. Artistas que sensíveis ao ritual fotográfico do turista, decidiram incorporá-lo em seus trabalhos.
Mas o que chamou mesmo a atenção do público foi o trabalho da própria Lívia. Ela contou que logo após a defesa da tese viajou para a China e se viu na posição dos seus objetos de estudo, os turistas.
“Estar em um lugar tão distinto foi para mim uma espécie de embate interno, já que eu estava saindo de uma imersão nesse universo da fotografia e do turismo. Tudo o que eu via aparentava ser uma enorme construção, algo feito para fotografar”, disse.
Como que o deslumbramento com o novo não poderia afetar o trabalho pessoal da artista? “Eu ali, naquela viagem, também me via numa situação de turista-fotografa. Num dado momento parece que todos nós vivemos essa busca pela imagem”, lembrou.
Dessa reflexão interna surgiu a série “Recontro”.
“Muitos dos lugares que passei, muitas vezes estavam tão poluídos, literalmente, que formava uma névoa nas cidades e nos templos. Essa carga de opacidade passou a ser matéria para constituir esse ensaio”, finalizou.
A experiência resultou em imagens delicadas e que guardam camadas de histórias.
Criado em 2010, o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é um projeto nacional que incentiva a cultura, a arte e a linguagem fotográfica em toda a sua diversidade. Ele é uma realização do jornal Diário do Pará, com patrocínio do Shopping Pátio Belém e Vale, apoio institucional do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, do Sistema Integrado de Museus/ Secult-PA, Sol Informática e Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA).