Texto: Debb Cabral
A chuva forte da quinta-feira (13) não afastou os mais de 130 interessados em pensar e discutir fotografia, que compareceram a mesa-redonda “Fotografia: campos de expansão”, com os membros da comissão de seleção do 5º Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, Alexandre Santos (UFRGS) e Rubens Fernandes Junior (FAAP/SP), tendo a mediação de Mariano Klautau Filho. O evento foi uma parceria com o Café Fotográfico da Associação Fotoativa e Centro Cultural Sesc Boulevard.
A proposta da mesa refletia as buscas e as intenções sobre uma ideia mais ampliada da linguagem fotográfica. Para entender melhor a fotografia contemporânea “é necessária uma percepção sobre os mais diversos aspectos que ela própria encarna em sua manifestação, como linguagem, como signo visual, narrativo, descritivo, ficcional, cientifico, social e político”, observou Mariano.
Alexandre Santos apresentou um recorte da pesquisa que ele já desenvolvia. “Fotografia e espreita: a noite nas imagens de Brassaï e Kohei Yoshiyuki”, era o tema. Ele observou que “a noite como um território de dispersão, do mistério do incontrolável; é o cenário perfeito para a atividade da espreita, pois sempre carregou o drama moral da escuridão, ligado ao caos, ao mistério e ao domínio do mal”.
Brassaï trabalhou como jornalista e andava pela noite nas ruas e cafeteiras parisienses em busca de vida. A noite era sugestiva e a cidade era um palco. Pitoresca nos edifícios, bordéis, trabalhadores, malandros, prostitutas e travestis. O surrealismo da realidade fantástica.
Já Yoshiyuki trabalhava como fotógrafo comercial em Tóquio quando se encantou pela atividade noturna em Shinjuku. Frequentava os parques à noite e ao ficar amigos dos voyeurs ninguém percebeu que carregava uma pequena câmera. Em suas fotos da série “Parque” a escuridão era rompida apenas pela luz fraca de lanternas, o espectador da imagem também tinha a experiência de reconhecer corpos através de suas partes, já que os rostos, em sua maioria, eram escondidos.
“Cerca de 40 anos separam as poéticas de Brassaï o Yoshiyuki, um período no qual se processaram muitas mudanças no plano cultural, inclusive quanto a inserção da fotografia na arte. Em suas narrativas urbanas errantes muitos pontos em comum se revelam, entretanto, ao enfatizarem as questões da experiência, do corpo e da alteridade na cidade; as suas experiências reafirmam a potencia da vida coletiva dentro da sua própria complexidade e multiplicidade de sentidos. Ao mesmo tempo em que enfrentam os discursos visuais dominantes e seus silêncios históricos”, acentuou, Alexandre.
Já Rubens Fernandes Junior teve a temática de sua fala construída a partir do contato com o tema dessa quinta edição do Prêmio. O Não-tema, o Não-lugar, a Não-fotografia.
“Entendo a imagem, particularmente a fotográfica, como um espaço significativo, construído não só pela mediação do homem e máquina, mas também pela interação entre linguagens e articulação com os enquadramentos, posições, cores e muitas coisas variáveis; além de um repertório necessário para você poder interagir, ou pra você pensar nessa relação homem e máquina”, comentou.
Na atual realidade, imersos em imagens, o indivíduo vive e convive com imagens mediadas por novas praticas; daí a necessidade de se buscar novas reflexões sobre a imagem técnica. Nesse ponto, a fotografia é fonte de informação, que incendeia a imaginação do sujeito, e cria um espaço interrogativo.
“Eu diria que algumas fotografias são opacas, o plano da imagem detém o observador; e algumas fotografias são mais transparentes, pois o observador é arrastado através da sua superfície pra dentro da ilusão da imagem”, encerra, Rubens.
Criado em 2010, o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia é um projeto nacional que incentiva a cultura, a arte e a linguagem fotográfica em toda a sua diversidade.