A pulsão pela vida: confira as obras no Museu da UFPA

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Mostra no Museu da UFPA encerra neste domingo (28) como parte do Diário Contemporâneo de Fotografia

 

“Ruínas de Sustentação”, de Duda Santana – artista convidada.

Uma mulher com a cabeça envolta por fios e concreto: um rosto coberto, uma sensação de incômodo. A série “Ruínas da Sustentação” (2018), da artista convidada Duda Santana (PA) é o primeiro conjunto de obras que o visitante é instigado a observar na mostra “Pulsões”, com curadoria de Mariano Klautau Filho, em cartaz no Museu da UFPA até o próximo domingo (28), como parte do Diário Contemporâneo de Fotografia. Ao lado, “Permanência” (2016), de Ana Mokarzel (PA), apresenta o Casarão Camelier, abandonado e destruído, que se tornou invisível na capital paraense, mas orna em seu concreto a resistência. 

A proposta de diálogos entre as demais obras da mostra tem justamente a ideia de causar provocações. De acordo com o curador, foram reunidas no MUFPA os trabalhos com caráter mais visceral. Os vídeos também estão reunidos em sua maioria neste museu, em suas salas e compartimentos de pouco isolamento sonoro – por se tratar de um prédio que data do início do século XX, o Palacete Augusto Montenegro. 

“As pessoas incomodadas estão em alerta. E esse foi um dos nossos objetivos ao propor a mostra, considerando a temática proposta pelo curador convidado desta edição, Alexandre Sequeira, que assinou a mostra ‘Desejos Pessoais, Pulsões Coletivos – Quando as imagens tomam posição’, que esteve exposta na Casa das Onze Janelas”, explica Mariano Klautau Filho. “Até mesmo o som de um vídeo que se contamina com o do outro é uma possibilidade de incômodo”, completa o curador. 

Além das artistas citadas, constam na mostra “Pulsões, da coleção DCF, obras de Coletivo Garapa (SP), Flavya Mutran (PA/RS), Hirosuke Kitamura (JP/BA), Jorane Castro (PA), Renan Teles (SP) e Tom Lisboa (PR). Dos artistas convidados, estão trabalhos de Denise Gadelha (PA/SP), Betania B (PA), Victor Galvão (RJ), Laiza Ferreira (PA/RN), Melissa Barbery (PA), Patrícia Teles (RJ), Paulo Mendel (RJ/SP) & Vi Grunvald (PA/RS), Randolpho Lamonier (MG) e Waléria Américo (CE).

Mariano explica ainda a forte presença da ideia de diálogo, diante do cenário político brasileiro. “É uma resposta, um diálogo, um reflexo visceral ao estado de coisas que nos desafia no Brasil de 2019-2022, sob o comando nefasto e sem paralelo na história do país. A arte é uma antena, um captor de energias, uma metralhadora giratória necessária frente às peripécias do poder e às armadilhas da história. Portanto, os artistas são aqueles cuja atitude muitas vezes responde energicamente, revidando a todos os golpes e ferimentos pelos quais sofremos”, afirma em seu texto curatorial. 

Obras

Nas ruínas de “Uroboro”, obra de Denise Gadelha, o curador destaca o transe ritualístico causados pelo som e pelo impacto da imagem em plano-sequência da videoarte – o que ele compara às cidades em mutação presente nas obras de Victor Galvão e do Coletivo Garapa. “Ainda na esfera urbana, as poéticas desdobram-se na literatura que ‘lambe’ os muros da cidade de Melissa Barbery; nos espectros fantasmáticos de Flavya Mutran e na partitura sonora que Waléria Américo compõe com os tiros da violência cotidiana”, elucida Mariano. 

“Uroboro”, de Denise Gadelha – artista convidada

Em outro campo, um conjunto de obras apresenta ainda a energia sexual: são trabalhos de  Jorane Castro, Hirosuke Kitamura e Renan Teles que revelam uma postura contra toda normatividade. “Da mesma forma e intensidade, os Palimpsestos de Tom Lisboa refletem a urgência das ruas e se complementam no filme Domingo, de Paulo Mendel e Vi Grunvald, uma ode tocante em defesa das diferenças, das liberdades afetivas e das políticas que o corpo tão bem encarna”, diz o curador, considerando essa forte marca no vídeo de Patrícia Teles 

As colagens de Laiza Ferreira, que transitam entre a ficção e suas temporalidades não lineares, reafirmam a ideia do incômodo neste tempo histórico, bem como os retratos noturnos dos marajoaras de Betania B, entre as pessoas e a paisagem da ilha paraense. Segundo Mariano, trata-se desta vez de uma forma de rebater a realidade em seu “sentido erótico, corpóreo, passional, afetivo, mas nunca apaziguador”. “Desse modo, ofereço as correspondências em vídeo entre Victor Galvão e Randolpho Lamonier como antídotos para todos nós, sobreviventes de um novo triste trópico que esperamos, recuperar-se em breve”, diz. 

O DCF é uma realização do jornal Diário do Pará e RBA com patrocínio da Alubar, Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), Sebrae-PA, apoio institucional do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (Secult) e Sistema Integrado de Museus e Memoriais (SIMM), Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA), e colaboração da Sol Informática.

 

Serviço

Mostra Pulsões
Curadoria de Mariano Klautau Filho
Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA) – Av. Gov. José Malcher, 1192 – Nazaré (entrada pela Av. Generalíssimo Deodoro)
Visitação até 28/11/2021
sexta-feira, das 9h às 17h – finais de semana e feriados, das 9h às 13h
Entrada gratuita