Lucas Gouvêa, ganhador do Prêmio Diário do Pará em 2012, é formado em design pelo CEFET, estuda Artes Visuais na UFPA e já teve alguns trabalhos expostos em galerias da cidade de Belém (CCBEU, SESC, Salão da Vida), porém, é fora de todas essas instituições que constrói o trabalho artístico de qual se orgulha em ser autor.
Junto com os outros integrantes do qUALQUER qUOLETIVO vem, desde 2010, executando trabalhos de performance e intervenção em espaços públicos de Belém de forma rizomática, horizontal e descentralizada e também engendrando-se dentro dessas instituições (universidade, galerias) com intuito de desestigmatizá-las enquanto espaço religioso da arte e de pura contemplação, transformando-as em um espaço livre, onde qualquer um pode fazer arte.
“É a primeira vez que me inscrevo no Prêmio Diário e é a primeira vez que ganho um prêmio desta importância”, diz ele, contemplado à premiação dedicada ás produções paraenses.
“Spinario” traz o escuro e a luz. A emoção e a razão. A dor e a felicidade. A fotografia e o vídeo. De acordo com o artista, Spinario é um vídeo-fotografia referencial que se apropria de uma escultura helenística do século I A.C.. Um menino remove espinhos do seu pé, para a construção de um processo audiovisual de depuração da imagem da luz.
“Minha obra cursa uma dialética precisa. É o Analógico e Tecnológico. O fotógrafo e o performer. Da sola dos pés aos mil olhos de Osíris”, diz.
Em sua opinião, nada define a fotografia contemporânea. Por isso resolveu se inscrever no salão de fotografia mesmo não sendo um fotógrafo. “A fotografia hoje em dia define o mais plural significado da reprodutibilidade, se encontra em todos os lugares, nos celulares, nos outdoors, nos documentos, na televisão, nos rituais humanos. E a contemporaneidade está fatalmente ligada ao tempo, todo artista é contemporâneo, ao seu tempo, a sua existência. Talvez o primeiro fotógrafo contemporâneo, tenha sido Platão quando escreveu sua alegoria da caverna”.
Além da universidade da qual faz parte, e de sua produção marginal, se tratando de fotografia e do ensino da mesma, ele diz que já conhece e se relaciona com a cena tradicional da fotografia paraense há alguns anos.
“Editei o vídeo ‘Planeta Pinhole’ em parceria com artistas parceiros e a Fotoativa, para ser lançado no Pinhole Day, onde se encontra um panorama mundial da produção artesanal de fotografia”, exemplifica o artista que no ano passado também editou o catálogo de acervo da galeria KamaraKó, única no norte especializada em fotografia.
“Dentre outros trabalhos, sempre de forma marginal e não fotográfica, sou um apaixonado por fotografia, porém tento enxergá-la muito além do processo químico comum do qual estamos acostumados a lidar, e me vejo dentro dessa cena, como um dos agentes desestabilizadores dessa hegemonia artística tradicional e historicista”, afirma. Para Lucas, que tem trabalhado há anos, rompendo totalmente com essa ideia de seleção e curadoria, o Prêmio Diário veio em boa hora.
“Financeiramente e teoricamente. Dentro do meu processo artístico acadêmico não há momento mais importante do que essa oportunidade pra repensar meu fazer artístico, e minha consciência critica. Boa parte de todo esse processo fará parte do trabalho de conclusão de curso de artes visuais do qual eu me formo esse ano”, encerra.