Curadoria busca responder questionamentos para provocar reflexões acerca de urgências dos dias de hoje
A arte como provocação para refletir sobre as urgências do nosso tempo. O 12º Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia traz como ponto de partida o encontro entre obras do acervo da coleção do projeto e de artistas convidados para elucidar alguns questionamentos como: o que deste encontro poderá ser revelado? Que tensões surgirão? A perspectiva é que o diálogo contemple ainda um elemento fundamental: o olhar do público. A decisão por este formato, sem edital de convocatória como em edições anteriores, foi pensada por conta de ainda estarmos em período de pandemia. A logística que envolve a organizacão de uma convocatória se mostrou muito complexa em um contexto ainda restrito, de dificuldades e incertezas.
Com isso, o projeto centra a atenção na sua coleção, a Coleção Diário Contemporâneo de Fotografia, construída ao longo de mais de uma década, composta por mais de 45 artistas de diversas regiões do Brasil, e abrigada em dois museus públicos, Casa das 11 Janelas e Museu de Arte da UFPa, o que formata a mais relevante coleção de fotografia contemporânea da região norte, e uma das poucas do país com esse recorte curatorial. “O projeto sempre olhou para a fotografia em diálogo com outros suportes, discutida num escopo amplo da arte. Isso é especial em uma sociedade como a nossa, tão visual. Então me deparei, nesta curadoria, com uma coleção que se volta às questões muito emergentes dos dias de hoje, por exemplo, a perda de certezas que nos pareciam muito fundamentais”, explica Alexandre Sequeira,curador convidado desta edição, fotógrafo premiado e professor de Artes da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Com o título “Desejos pessoais, pulsões coletivas: quando as imagens tomam posição”, a mostra faz referência aos estudos de Georges Didi-Huberman, filósofo e historiador francês, um dos principais pensadores da atualidade. Em um de seus escritos, Didi-Huberman reflete sobre a experiência vivida por Bertold Brecht em um momento extremo: quando o dramaturgo precisou interromper sua produção teatral durante a ascensão do nazismo. Perseguido, Brecht produziu cadernos de arte, compostos por imagens muito distintas. “Eram fotografias, recortes de jornal, propagandas. Brecht compunha as páginas com essas imagens, e elas começavam a ‘conversar’. Assim, quando aproximadas, confrontadano s, elas ganhavam nova significação”, ensina Sequeira.
Mostras
A exposição no Museu Casa das 11 Janelas, que será aberta no dia 5 de outubro, apresentará obras de 12 artistas da Coleção DCF e 14 convidados. “Esse encontro propõe zonas de reflexão, que nem sempre são de apaziguamento, mas de atrito, fricção”, diz Sequeira. “Após definir que obras do acervo fariam parte da mostra, fui em busca de artistas de fora da coleção. Convidamos pessoas de várias procedências: artistas que trazem em seu enunciado um recorte indígena, de questões de gênero, raça, questões sociais do contexto atual. Esses novos atores, ao entrar em contato com a coleção, a reativam, mantém a coleção viva e presente”, diz Alexandre. A mostra vai ser aberta ainda no Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA), no dia 6 de outubro como um recorte intitulado “Pulsões” sob curadoria de Mariano Klautau Filho, curador geral do projeto. Como propõe o título, a mostra do MUFPA enfatizará o tom inquieto do eixo central da edição propondo relações entre corpo e cidade com trabalhos de 7 artistas da Coleção DCF e 8 artistas convidados.
“O Diário Contemporâneo não é um evento, é um projeto de maior durabilidade que produz para a cidade um acervo importante de fotografia contemporânea, em constante crescimento. Sua coleção é um bem público, pois pertence aos museus, está disponível à visitação e à pesquisa e por isso trata-se de um projeto político, que busca envolver a comunidade de artistas, pesquisadores, estudantes e professores de arte”, frisa o curador geral do Diário Contemporâneo de Fotografia.
Virtual + educativo
A edição deste ano terá também um “tour virtual” das mostras, que disponibiliza as exposições no formato digital no site do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, além de encontros e debates virtuais com a equipe de curadores e artistas. E nos museus, uma equipe interdisciplinar de mediadores receberá o público para visitas guiadas como o programa de ação educativa, para possibilitar aos visitantes novas experiências estéticas, novos olhares sobre as obras, sobre arte.
O DCF é uma realização do jornal Diário do Pará e RBA com patrocínio da Alubar, Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), Sebrae-PA, apoio institucional do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (Secult) e Sistema Integrado de Museus e Memoriais (SIMM), Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA), e colaboração da Sol Informática.
Serviço
Mostra “Desejos pessoais, pulsões coletivas – Quando as imagens tomam posição”
Museu Casa das 11 Janelas – R. Siqueira Mendes, s/n – Cidade Velha
Visitação até 14/11/2021
de terça-feira a domingo, das 9h às 17h
Entrada gratuita às terças-feiras e aos domingos 1kg de alimento não perecível por 4 ingressos. Demais dias: R$ 4, com gratuidade a estudantes, professores, pessoas portadoras de deficiência e crianças até 12 anos
Mostra “Pulsões – Diálogos com a coleção DCF”
Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA) – Av. Gov. José Malcher, 1192 – Nazaré (entrada pela Av. Generalíssimo Deodoro)
Visitação até 28/11/2021
de terça à sexta-feira, das 9h às 17h – finais de semana e feriados, das 9h às 13h
Entrada gratuita